Os democratas avançaram formalmente com duas acusações de impeachment contra Donald Trump, sendo elas abuso de poder e obstrução ao Congresso.
O anúncio foi feito por Jerrold Nadler, o chefe democrata do Comité Judicial da Câmara. Os esforços de Trump para "solicitar uma interferência externa nas eleições [presidenciais] de 2020 (...) comprometeram a segurança nacional e ameaçaram a integridade das eleições", justificou o responsável, reiterando uma ideia que já havia sido transmitida antes. "Temos de dar este passo solene hoje", considerou.
O presidente norte-americano, Donald Trump, está a ser investigado por ter pedido ao homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, que investigasse uma empresa ucraniana da qual foi administrador o filho do ex-vice-presidente Joe Biden, dado como favorito a concorrer pelos democratas nas eleições de 2020.
Adam Schiff disse que Trump contrariou "o poder de o Congresso o responsabilizar", referindo-se à recusa da Casa Branca e respectivos funcionários em colaborar com as inquirições do Congresso. "O seu abuso de poder não nos deixou outra alternativa. Não fazer nada tornar-nos-ia cúmplices", acrescentou.
Em resposta a esta decisão, a campanha de Donald Trump para as presidenciais 2020 publicou um comunicado acusando os democratas de "criar um teatro político" porque "não têm um candidato viável para 2020 e sabem-no", isto é, para enfrentar o republicado Donald Trump.
O processo de destituição
Durante dois meses, o Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes realizou uma investigação para determinar se houve abuso de poder por parte de Trump para pressionar Kiev, congelando uma ajuda militar de aproximadamente 400 milhões de dólares destinada ao país.
No dia 3 de dezembro, o inquérito que visa a destituição de Donald Trump reuniu "provas esmagadoras" de "conduta inapropriada" do Presidente, segundo o relatório oficial da comissão parlamentar que realizou as investigações.
Na passada quinta-feira, dia 5 de dezembro, a Presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, anunciou que iria avançar com a redação de acusações contra Donald Trump. “As ações do Presidente violaram seriamente a Constituição”, disse Pelosi aos jornalistas em conferência de imprensa em Washington.
Foi num clima de confronto que esta segunda-feira, 9 de dezembro, se iniciou a apresentação das conclusões - por legisladores e especialistas - sobre o caso ucraniano.
Depois de dois meses de investigação na Câmara de Representantes e cerca de quinze audiências, a comissão judicial reuniu-se esta semana para redigir as acusações contra o presidente.
Ontem, após cerca de dez horas de audiência, com duros confrontos verbais, o chefe democrata do Comité Judicial da Câmara, Jerry Nadler, considerou que a conduta de Trump era "claramente merecedora de uma acusação formal". O que se veio a confirmar.
O presidente "colocou os seus próprios interesses acima da nossa segurança nacional" e "continua a representar uma ameaça para a integridade das nossas eleições e do nosso sistema democrático", afirmou Nadler.
Já os republicanos seguiram a linha de defesa da Casa Branca e denunciaram "um espetáculo político". Os democratas "não conseguiram encaixar o facto de que Donald Trump é o Presidente", disse o membro republicano do Comité Doug Collins.
Trump, que viu "um pouco" da audiência, qualificou o processo de "vergonha e manipulação".
Para Nadler, "a acusação na base (deste caso) é de que o Presidente colocou os seus interesses acima dos do país em várias ocasiões, pedindo repetidamente a uma potência estrangeira que interferisse nas nossas eleições", resumiu. Isso representa, advertiu, "um perigo real para as eleições presidenciais" de novembro de 2020, em que o Trump procura um segundo mandato.
Já Collins considerou que todo este assunto não passa de uma "boa operação de relações públicas" dos democratas antes das eleições de 2020. "Tudo é político. Onde está o crime passível de impeachment? Por que motivo estamos aqui?", questionou Collins.
Depois da discussão haverá uma votação na Câmara de Representantes, que deverá dar seguimento ao impeachment, possivelmente antes do Natal.
Trump "será absolvido"
Considerando a maioria democrata na Câmara, Trump será o terceiro presidente da história, depois de Andrew Johnson e Bill Clinton, a enfrentar um impeachment no Congresso. Richard Nixon também esteve envolvido num processo, mas, sem o apoio dos próprios republicanos, renunciou antes da votação no plenário.
Neste caso, Trump provavelmente será absolvido durante o processo no Senado, onde os republicanos são maioria e Trump conta com apoio amplo dos membros do seu partido.
Os republicanos acusam os democratas de acelerarem o processo com o único objetivo de destituir Trump para não o enfrentar nas eleições presidenciais do ano que vem. Enquanto isso, o presidente promete vingar-se nas urnas.
A investigação dos democratas é uma "verdadeira vergonha", denunciou este domingo o porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham. "[Os democratas] têm medo das próximas eleições".
Embora a Câmara de Representantes o acuse, o presidente terá um "julgamento justo" no Senado, disse na Fox News, reiterando que este "não fez nada errado".
Os senadores republicanos querem que vários democratas sejam convocados, incluindo Joe Biden e seu filho Hunter, que entrou para o conselho de um grande grupo de gás ucraniano na época que o seu pai era vice-presidente de Barack Obama. Por isso Trump acusa-o de corrupção.
O senador republicano Lindsey Graham, um influente aliado do presidente, advertiu no domingo que o aconselharia a não convocar essas testemunhas para terminar rapidamente um procedimento que "desgarra o país".
"Assim que 51 de nós", uma maioria simples do Senado, "dissermos que ouvimos o suficiente, este julgamento terminará", disse na Fox News. "O presidente será absolvido".
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