Os líderes mundiais reúnem-se na quarta-feira na Cimeira sobre Ambição Climática, na qual os países do G20, pressionados pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, vão acelerar as suas ações com a esperança de manter vivo o Acordo de Paris.

Mas já se começa a falar do ambiente. O Papa Francisco pediu, esta segunda-feira, união ao Planeta para enfrentar os desastres climáticos, num discurso transmitido por videochamada à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas.

"É hora de trabalharmos juntos para deter a catástrofe ecológica antes que seja tarde demais", declarou o Papa, de 86 anos, durante uma videoconferência com o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, na abertura da Iniciativa Global Clinton deste ano.

Para o pontífice, esta é a razão pela qual está a escrever um novo documento papal como continuação da sua histórica Laudato Si de 2015, uma carta na qual a Igreja se posicionou sobre a ecologia integral.

O que é este documento?

A segunda encíclica escrita pelo Papa no seu pontificado é também conhecida como a “encíclica verde”, porque é dedicada ao ambiente. E chama-se “Laudato si” (Louvado sejas) por ser a frase inicial do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Francisco foi o nome escolhido por Jorge Bergoglio quando foi eleito pontífice em 2013, um santo ligado pelos católicos à paz, à pobreza e à proteção da Criação.

O ambiente é uma preocupação constante do Papa?

Sim. Desde o início do seu pontificado, Francisco referiu-se em numerosas ocasiões à proteção do ambiente, como recentemente em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude. É famosa a sua frase em que cita um idoso que lhe disse “Deus perdoa sempre, os homens às vezes, a Terra nunca perdoa”.

De recordar que o Papa fez da crise climática um pilar fundamental da sua liderança de uma década, ainda que não esteja claro até que ponto afetou os seguidores politicamente conservadores da Igreja.

Como está o Planeta?

Os comentários do Papa ocorrem num momento em que os observadores do clima preveem que 2023 será o ano mais quente da história da humanidade, com um verão marcado por ondas de calor, secas e incêndios florestais.

Estas são algumas notícias que mostram estes efeitos e o que se faz para tentar encontrar outro caminho:

  • A camada de gelo da Antártida está muito abaixo de qualquer nível de Inverno antes registado, segundo dados de satélite, contrariando a perceção de que a região resiste ao aquecimento global.
  • Dezenas de milhares de ativistas do clima exigiram a semana passada, em várias partes do mundo, o fim dos combustíveis fósseis, responsáveis pela emissão de gases com efeito de estufa, na origem do aquecimento do planeta.
  • O verão de 2023 foi o mais quente desde que há registos globais, de acordo com o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, em Nova Iorque.
  • Os efeitos das ondas de calor marinhas são mais intensos entre os 50 e os 250 metros do que nas águas mais superficiais, concluíram investigadores da Universidade do Algarve, alertando que isso representa um maior risco para a biodiversidade.
  • Ativistas ambientais do grupo Last Generation pulverizaram tinta no Portão de Brandeburgo, o monumento mais conhecido de Berlim, numa tentativa de incitar o governo alemão a abandonar imediatamente os combustíveis fósseis.
  • A extinção em massa provocada pelo ser humano está a eliminar espécies, mas também “ramos inteiros da árvore da vida”, alertam os autores de um estudo da Universidade norte-americana de Stanford.

Com tudo isto, estamos longe do desenvolvimento sustentável?

As alterações climáticas estão a afetar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas (ONU), segundo um relatório internacional, que adianta que apenas 15% das metas da Agenda 2030 estão no bom caminho.

O relatório 'United in Science' [Unidos na Ciência], elaborado por agências internacionais e coordenado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), analisa o impacto das alterações climáticas e de condições meteorológicas extremas, abordando a forma como a ciência relacionada com o clima e a água pode fazer avançar objetivos como segurança alimentar e da água, energia limpa, uma melhor saúde, oceanos sustentáveis e cidades resilientes.

Em conferência de imprensa, a 14 de setembro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou que 2023 tenha mostrado "demasiado claramente" que as alterações climáticas "estão aqui", salientando que o aumento das temperaturas está a ter consequências graves na terra e no mar, além da maior ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos.

"Sabemos que isto é apenas o início e que a resposta global está a ser insuficiente. Entretanto, a meio caminho do prazo de 2030 para os ODS, o mundo está lamentavelmente fora do caminho", alertou Guterres, que acrescentou que a ciência é "fundamental" para as soluções necessárias para o avanço no cumprimento das metas.