Reality Winner, a três dias das eleições em novembro, publicou no Facebook, em tom de brincadeira com a irmã, informação que devia ser confidencial: Moscovo estaria a tentar influenciar as eleições presidenciais dos EUA.
"Quando nos tornarmos os Estados Unidos da Federação Russa, levantar pesos será um desporto nacional", brincou a jovem de 25 anos.
Sete meses depois deste episódio, Winner ligou para casa, no sábado, para informar a família que a situação se tinha tornado mais séria, conta o The Guardian. Billie Winner-Davis, mãe de Reality Winner, contou ao jornal que esta ligou para dizer que "foi presa pelo FBI e não podia falar sobre isso. Ainda estou em choque", confidenciou Billie Winner-Davis.
O que se passou? Reality trabalhava para a Pluribus International Corporation, empresa contratada pela NSA, que operava em Augusta, na Georgia, onde Reality estava colocada deste fevereiro deste ano, tendo acesso a informação secreta. Segundo os procuradores, a jovem terá imprimido um documento que detalhava como a Rússia pirateou um fornecedor de equipamento de votação na Flórida e estava tentar piratear sistemas informáticos locais até ao dia das eleições, que tiveram lugar em novembro. Depois, terá divulgado essa informação aos media.
O Wikileaks divulgou recentemente um relatório do FBI que explica o caso.
Pode ler-se no documento que Reality "imprimiu e removeu de forma imprópria um relatório que continha informação classificada sobre defesa nacional (...) e reteve-o ilegalmente. Dias mais tarde, Winner transmitiu ilegalmente o relatório a um grupo de comunicação social digital".
O grupo de comunicação social questionou as autoridades sobre o documento. Face ao alerta, foi "iniciada uma auditoria interna para determinar quem teve acesso ao documento", tendo sido identificados seis indivíduos, entre os quais Winner. Com o aprofundar da investigação, as autoridades descobriram que a jovem "tinha contactado com o grupo de comunicação social".
Questionada pelas autoridades, a 3 de junho, Winner "admitiu identificar e imprimir um relatório com informação classificada apesar de não ter 'necessidade de saber' e ciente que se tratava de um se tratava de um relatório secreto. Winner admitiu igualmente que removeu o relatório do seu escritório, reteve-o e enviou-o por e-mail de Augusta, Georgia, para a comunicação social, sabendo que estes não estavam autorizados a receber ou estar na posse dos documentos". Além disso, "Winner reconheceu que sabia do conteúdo do relatório e que sabia que o conteúdo do mesmo podia ser usado para prejudicar os Estados Unidos e dar vantagem a uma nação estrangeira".
Posto isto, a jovem foi acusada de um crime contra a segurança nacional, tendo comparecido em tribunal esta segunda-feira, 5 de junho, no mesmo dia em que o site The Intercept publicou a história sobre o ciberataque alegadamente divulgado por Winner aos media. Detalha a publicação que piratas russos terão executado um ciberataque a pelo menos um fornecedor de software de votação e enviado mais de 100 emails que tinham software malicioso e cujo objetivo era roubar dados.
Apesar de a acusação não nomear o meio de comunicação social visado, responsáveis oficiais com conhecimento do caso confirmaram à Reuters tratar-se do The Intercept.
A Rússia entretanto, esta terça-feira, de forma categórica, a informação avançada pela imprensa norte-americana de que, segundo um documento secreto da NSA, piratas informáticos do serviço de inteligência militar russo tentaram invadir os sistemas eleitorais norte-americanos antes da votação presidencial de 2016.
“Estas afirmações não correspondem à realidade”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov. “Desmentimos de maneira veemente qualquer possibilidade de que isto possa ter acontecido”, completou. “Não ouvimos nenhum argumento que confirme a autenticidade das informações”, insistiu Peskov.
O Governo dos Estados Unidos da América acusou oficialmente a Rússia, em outubro de 2016, por ataques informáticos contra pessoas e instituições norte-americanas com o objetivo de interferir nas eleições presidenciais de 8 de novembro. O caso está a ser investigado desde então, havendo inclusivamente suspeitas de ligações entre a equipa de campanha de Donald Trump e a Rússia.
O ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn foi obrigado a demitir-se no dia 13 de fevereiro por omitir repetidos contactos que manteve com o embaixador russo em Washington em 2016, antes de Trump tomar posse como Presidente, durante os quais abordou as sanções americanas a Moscovo, impostas por Obama na sequência deste caso e que culminou na expulsão de diplomatas russos do país.
A polémica adensou-se com um alegado pedido de Trump ao ex-diretor do FBI James Comey - entretanto demitido pelo Presidente - para que abandonasse esta linha de investigação, o que pode configurar uma obstrução à Justiça.
De referir que a demissão de James Comey, muito polémica, foi vista pelos críticos como uma forma de travar uma investigação em curso sobre as alegadas interferências russas nas últimas eleições norte-americanas, vencidas por Trump.
Em maio deste ano, um novo caso veio colocar o Presidente dos Estados Unidos numa posição complicada, aumentando as suspeitas sobre as relações entre Washington e Moscovo. Em causa estão revelações feitas por Trump sobre o autoproclamado Estado Islâmico ao ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. Essa informação versava a intenção do grupo extremista instalar explosivos em computadores portáteis, com a finalidade de fazer explodir aviões comerciais. Enquanto a Casa Branca veio de imediato excluir a hipótese de Trump ter revelado informação sensível que compromete a segurança dos EUA, o próprio presidente veio defender, através do Twitter, o seu direito de partilhar informação com a Rússia.
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