O cosmonauta russo Mikhail Kornienko, que apresenta na sexta-feira na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto uma exposição em que se recorda o começo da era espacial com o lançamento do satélite russo Sputnik, em 1957, afirmou à agência Lusa não ter saudades do Espaço mas de bom grado voltaria a sentir "a adrenalina e a emoção" de viver um ano em órbita.

O momento mais complicado da estadia na estação espacial internacional durou uma hora e os cosmonautas não puderam fazer nada senão esperar: "Fomos avisados muito tarde sobre a passagem pela estação de pedaços de lixo cósmico" - pedaços de aparelhos, satélites e naves que orbitam em volta da Terra -, conta.

"Costumamos ser avisados com uma antecedência de 24 horas para nos prepararmos. Mas este aviso só aconteceu uma hora antes do possível impacto, não houve tempo para reagir. Fechámos as portas e esperámos dentro da nave. Graças a Deus, não nos atingiu. Não teria havido tempo para o evitar, foi muito perigoso", acrescentou.

Ao cabo de centenas de dias seguidos de missão, a pressão psicológica entre pessoas forçadas a viver num ambiente exigente e apertado é aliviada porque há um trabalho conjunto antes da partida para o Espaço.

"Conhecemo-nos um ano e meio antes [da missão] e é aí que aprendemos a comunicar e a relacionar-nos. Quando vamos para o Espaço, há trabalhamos juntos e já não surgem problemas de comunicação", relatou.

Apesar de o contacto com a Terra ser "praticamente diário", em tanto tempo surgiram "estados psicológicos mais complicados" para Kornienko, cuja solução foi sempre "exercício físico", diluindo as preocupações no equipamento da estação espacial.

O cosmonauta, que nasceu em 1960 na cidade de Sysran, cresceu a ver "heróis" como o primeiro homem a ir ao Espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin, que o inspirou a pensar um dia ter o mesmo percurso.

"Foi um caminho muito longo e complicado. A primeira escolha para quem queria ser cosmonauta era primeiro tornar-se piloto militar e depois tirar o curso de cosmonauta, depois surgiu um programa de cosmonautas civis. Para mim, entre o primeiro pedido e a ida ao Espaço houve uma distância de 20 anos", assinalou.

Mikhail Kornienko, que viveu 516 dias fora do mundo em missões realizadas em 2010 e em 2015, defende que "o Espaço só deve ser usado para fins pacíficos, para o interesse de toda a humanidade".

"A militarização do Espaço é uma ideia muito má", afirma, ao mesmo tempo que "não vê mal nenhum" nas missões espaciais de empresas e privados.

Para poder levar turistas ao Espaço, "também é exigida tecnologia muito avançada" que pode beneficiar todos os programas espaciais estatais ou internacionais. "Podem acompanhar-se uns aos outros", indicou.

Além disso, se houver alguém para se encarregar do turismo, "os cosmonautas profissionais ficam mais livres para outras tarefas" científicas.

"Com o tempo todo que passei no Espaço, deixei muita coisa por fazer aqui na Terra", admite Mikhail Kornienko, que voltaria "com todo o gosto" a sair da Terra se surgir "uma viagem interessante".

Por agora, trabalha no centro de treino de cosmonautas conhecido como "Cidade das Estrelas", a nordeste de Moscovo, onde ensina e partilha as experiências de permanência no Espaço.

O cosmonauta não tem dúvidas de que o futuro da exploração científica levará os seres humanos à "colonização de outros planetas, Marte em primeiro lugar", um interesse que está a levar a "um aumento a nível mundial" dos recursos dedicados ao Espaço.

Para isso, é ainda preciso "ter novos conhecimentos e conhecer a desenvolver ciência", e países como Portugal têm nisso um papel, defendeu, com "a sua capacidade tecnológica e científica".

A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto terá em exposição a partir de sexta-feira uma réplica à escala real do Sputnik 1, o primeiro satélite, construída pelo professor Rui Moura.

Mikhail Kornienko contribui com uma palestra sobre as suas experiências a bordo da estação espacial internacional, no dia em que se comemoram 58 anos da primeira viagem de um ser humano ao Espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin.

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