Veio de Parada do Pinhão, aldeia do concelho de Sabrosa, que dista cerca de 20 quilómetros de Vila Real e, pela segunda vez, em dois dias, teve a consulta adiada. Na terça-feira foi de uroginecologia e hoje de fisioterapia.
Matilde Sousa anda muito devagar, apoiada em muletas e veio acompanhada pelo marido.
Esta utente queixou-se que “há muito tempo” aguarda pela consulta de uroginecologia e referiu que esta foi “a quinta vez que foi adiada”. “Disseram-me que depois me avisavam, mas não sei para quando fica. Estão sempre a adiar”, afirmou à agência Lusa.
Devido a uma operação ao joelho, Matilde precisava também “e muito” da consulta de fisioterapia.
“Estou muito preocupada e saturada. É um grande esforço vir aqui e para nada”, frisou.
Os médicos cumprem hoje o segundo dia de uma greve nacional de dois dias e os enfermeiros iniciaram, também na terça-feira, uma paralisação que se prolonga até ao final da semana.
Ramiro Gonçalves veio de mais longe, de Macedo de Cavaleiros, para uma consulta de cardiologia, mas no hospital de Vila Real foi informado que esta especialidade estava em “serviços mínimos”.
Já sabia da greve, até tentou ligar na terça-feira para confirmar se havia consulta ou não, mas, mesmo assim, disse que teve de fazer a deslocação. Para o acompanhar, a filha pediu dispensa do trabalho.
“É tempo perdido, despesas e muitos transtornos”, lamentou.
Luísa Rodrigues veio de Pedras Salgada, em Vila Pouca de Aguiar, para uma consulta de oftalmologia.
“Estou há muito tempo à espera. Já tive consulta marcada para abril e alteraram para hoje e hoje chego aqui e dizem-me que o médico fez greve. É complicado, não sabia da greve e se nos têm avisado escusávamos de fazer esta viagem”, contou à Lusa.
Armanda Pinheiro, grávida de três meses, ia hoje fazer a ecografia do primeiro trimestre. Por causa da greve o exame foi adiado deixando-a “desiludida” e com uma “ansiedade difícil de gerir”.
O cancelamento de consultas foi precisamente o efeito mais visível da greve dos médicos no hospital de Vila Real, embora muitas outras consultas tenham também decorrido com normalidade.
Ao início da manhã, o cenário no CHTMAD era igual ao de outros dias: parque de estacionamento cheio e salas de espera também com muitos utentes, sentados ou em pé.
Por causa das notícias sobre a greve, Alcino Rodrigues, residente na Galafura, Peso da Régua, veio antes da hora prevista e teve boas notícias.
“Já me disseram que sim, que vou ter a consulta de rotina de ortopedia que está programada desde abril”, referiu.
Luís Matos até foi surpreendido pela rapidez com que se despachou das análises e do eletrocardiograma que tinha agendado para hoje.
“Cheguei e fui logo atendido. Os técnicos não estão a fazer greve, mas muitos atentes devem ter pensado que sim e não vieram”, frisou.
Os dois sindicatos médicos convocaram uma greve nacional para terça-feira e hoje, sendo o primeiro dia agendado pelo SIM e o segundo marcado pela Federação Nacional dos Médicos.
Tanto médicos como enfermeiros argumentam que lutam pela dignidade da profissão e por um melhor Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Os médicos querem que todos os portugueses tenham médico de família, lutam pela redução das listas de utentes dos médicos e por mais tempo de consultas, querem a diminuição do serviço em urgência das 18 para as 12 horas, entre várias outras reivindicações, que passam também por reclamar que possam optar pela dedicação exclusiva ao serviço público.
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