
O secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM, Paulo Estêvão, disse hoje à agência Lusa que o estudo começa este mês com dois investigadores afetos ao gabinete de estudos criado com o objetivo de “mapear bem o conjunto da diáspora açoriana, onde quer que ela se encontre”.
A investigação começa este mês pela colonização do Alentejo, “que é uma história mal conhecida da diáspora açoriana”.
A iniciativa ocorreu em 1787 e tinha como objetivo “povoar uma província do país, já então com uma baixa densidade populacional, muito despovoada, e cujos governantes na altura consideraram que era essencial proceder a uma recolonização do Alentejo”.
No artigo “Povoadores Açorianos no Alentejo em finais do século XVIII” (2006), Luís Mendonça refere que a “transmigração” de 2.456 açorianos para as planícies do interior do Alentejo decorreu entre os meses de maio e outubro de 1787, foi “superiormente conduzida pelo Intendente Geral da Polícia (Pina Manique) e dispersou-se por diversas localidades do Alto e Baixo Alentejo”.
Segundo Paulo Estêvão, “estava previsto um contingente de cerca de 10 mil açorianos” mas, “a verdade é que, no primeiro ano, chegaram 2.400” a terras alentejanas.
“O projeto acabou por não avançar dadas as dificuldades que se encontraram, portanto, não prosseguiu até aos 10 mil que estavam planeados. Agora, o que interessa é que estes 2.400 açorianos foram dispersos pelo Alentejo, por grande parte dos concelhos alentejanos”, disse.
Assim, o Governo dos Açores considera “muito interessante” estudar “quais são os descendentes destes 2.400 açorianos”.
“O que é que ficou na gastronomia? O que é que ficou do ponto de vista da cultura, considerada de uma forma ampla? O que é que ficou na prática religiosa? Estes açorianos de que forma influenciaram a população alentejana? Qual é o quantitativo? Quantos é que são descendentes destes 2.400 açorianos?”, são as questões que se colocam aos elementos associados ao projeto.
Os investigadores vão “fazer um levantamento muito exaustivo em muitos locais” do território alentejano, uma vez que os casais açorianos foram distribuídos por vários concelhos.
“Sobre esta [colonização do Alentejo], nós sabemos onde é que a população foi distribuída, onde é que chegou, onde é que foi localizada, mas falta-nos saber tudo o resto, que é, de facto, as consequências deste povoamento e o que é que resultou deste povoamento e o que é que podemos perceber hoje na sociedade alentejana que tem uma ligação direta com os Açores”, disse Paulo Estêvão.
A investigação sobre a presença de açorianos na região alentejana deverá estar concluída em 2026, mas o Governo Regional espera ter um primeiro relatório até ao final deste ano.
Quando o levantamento estiver concluído, o executivo de coligação pretende “tornar esse trabalho público, para que todos os açorianos possam conhecer um pouco do que significa esta aventura de 2.400 açorianos a povoar o Alentejo, que é uma história muito pouco conhecida do público”.
“Tenho a certeza de que vamos encontrar milhares de alentejanos cujos ascendentes são açorianos e, depois, muitas das coisas que eles acham que são típicas da terra, (…) vão perceber que afinal essa cultura, essas tradições, alguma forma de ser, tem também a sua origem na população açoriana que colonizou durante o século XVIII o Alentejo”, concluiu o titular da pasta das Comunidades e dos Assuntos Parlamentares.
O governante adiantou à Lusa que a seguir ao Alentejo serão estudadas “outras diásporas mais mal conhecidas”, como as Canárias, onde existe “um grande número de descendentes de açorianos” que para ali se deslocaram no século XVII.
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