"Pensamos que agora há condições para que se extingam as portagens ou, pelo menos, para que se reduzam significativa e gradualmente, até à abolição", afirmou José Gameiro, presidente da Associação de Empresarial da Beira Baixa.
Este responsável falava numa conferência de imprensa realizada hoje na Covilhã, distrito de Castelo Branco, na qual também marcaram presença porta-vozes da Comissão de Utentes Contra as Portagens na A23, da União de Sindicatos de Castelo Branco e do Movimento de Empresários pela Subsistência do Interior.
Depois de criticarem o facto de estarem há quase ano e meio à espera de uma resposta ao pedido de audiência feito ao ministro do Planeamento e das Infraestruturas, também explicaram que, para já, vão manter a via do diálogo, mas não deixam de avisar que a "paciência tem limites" e admitem endurecer a luta.
Segundo explicaram, foi novamente solicitada uma reunião ao ministro da tutela, bem como à Comissão Parlamentar de Obras Públicas, e que será dirigido um convite aos grupos parlamentares na Assembleia da República para se deslocarem ao Interior, de modo a ficarem a conhecer no terreno a realidade e os prejuízos causados pelas portagens.
Entre os argumentos que serão apresentados está o do custo de mobilidade que os utentes têm de enfrentar sempre que se deslocam ou o do valor da "fatura extra" que as empresas do Interior tiveram de passar a incluir no seu plano de negócios devido aos custos com as portagens.
"Não é comportável para o desenvolvimento do território que haja empresas que no fim do ano, somando os gastos, tenham um gasto maior com as portagens do que têm com o IRC. E isso acontece, não é história"", afirmou José Gameiro.
Salientando que a redução de 15% implementada pelo atual Governo não é suficiente e reiterando que a única medida que serve a região é a da abolição das portagens, estas entidades mostram, contudo, abertura a reduções progressivas, até à extinção.
A expectativa é a de que o próximo Orçamento do Estado já contemple, pelo menos, uma nova redução, conforme explicou Marco Gabriel, da Comissão de Utentes da A23, frisando que a "recuperação económica que tem sido alcançada no país tem que ser posta ao serviço das populações".
Para o coordenador da União de Sindicatos de Castelo Branco, Luís Garra, é hora "de fazer justiça" a esta zona do país, "revogando medidas que nunca deveriam ter sido tomadas" e "contemplando as tais medidas de discriminação do Interior, que são sempre muito faladas, mas que depois não são concretizadas".
O sindicalista mostrou-se ainda preocupado com os alegados despedimentos que a Scutvias (concessionária da A23) estará a proceder e que deverão abranger 20 funcionários: "É mais uma razão para que o Governo de uma forma estrutural pegue na questão das parcerias público-privadas nesta matéria para reequacionar todo o processo e tomar as medidas que se impõem".
Em nome do Movimento de Empresários pela Subsistência do Interior, Luís Veiga, lembrou o facto de a região ter um rendimento per capita inferior ao da média nacional, defendendo, por isso, que têm de ser tomadas medidas para inverter os números, a começar pela questão da mobilidade.
Enumerando medidas que podem ser tomadas a esse nível, Luís Veiga também apelou para que haja decisões a curto prazo, até porque, "a paciência tem limites".
"Estamos a chegar a um ponto em que a tolerância está ser posta em causa. E quando a tolerância acaba teremos de ir mais longe e teremos de apontar baterias noutras direções, nomeadamente para a desobediência civil", avisou.
Segundo admitiram, caso não haja respostas positivas e caso o Orçamento do Estado não venha a contemplar qualquer medida, a luta poderá vir a endurecer e todas as possibilidades estão colocadas em cima da mesa, desde manifestações, a buzinões ou até a boicotes.
A autoestrada da Beira Interior (A23) é uma antiga Scut (via sem custos para utilizador) que permite a ligação entre Torres Novas e a Guarda, e que atravessa os distritos da Guarda, Castelo Branco, Santarém e Portalegre.
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