Em declarações à Lusa, André Ventura explicou que, “aparentemente, há uma grande contestação em relação” à decisão de participar no “debate de ontem [segunda-feira] na CTMV e não na RTP”.

Em causa está a troca do líder do partido Chega do espaço de debate na RTP3 — cuja ausência se notou através da cadeira vazia que a si estava reservada, o que mereceu reparos dos restantes participantes — pela presença no habitual espaço de comentário desportivo que ocupa, à mesma hora, na CMTV.

“Fui surpreendido, quer dentro, quer fora da coligação, por uma vaga extraordinária de animosidade por não ter participado no debate na RTP para as europeias”, referiu, acrescentando que hoje à noite vai decorrer uma reunião com os restantes membros da coligação (Partido Popular Monárquico, Partido Cidadania e Democracia Cristã e Democracia 21) para decidir o seu futuro como candidato nestas eleições europeias. A fundadora do Democracia 21, Sofia Afonso Ferreira, já confirmou ao Observador que vai apelar à permanência de Ventura.

“Hoje reunirei com os restantes membros da coligação e colocarei o meu lugar à disposição. Se entenderem que deve ser o número dois a substituir-me depois desta decisão, força”, disse André Ventura à Rádio Renascença. A confirmar-se a sua saída, Ventura será substituído na coligação por Gonçalo da Câmara Pereira.

Apesar da contestação, André Ventura rejeitou quaisquer críticas: “Eu não coloco o Benfica acima do país, nem coloco o futebol acima do país. Eu cumpro os meus compromissos, assumo as minhas responsabilidades.”

“Não faço disto um ‘hobby’, não é um passatempo para mim. Tenho um compromisso profissionalmente, contratualmente, com uma estação”, salientou.

O líder partidário acrescentou ainda que tinha sugerido a presença de outro membro da coligação no debate para suprir a sua ausência, mas que a RTP não aceitou esta solução.

Para além da controvérsia que gerou dentro da coligação Basta, este caso evoca uma potencial incompatibilidade na atividade de André Ventura enquanto comentador. De acordo com a legislação que regula a cobertura jornalística em período eleitoral, "os órgãos de comunicação social que integrem candidatos ao ato eleitoral como colaboradores regulares (...) devem suspender essa participação e colaboração durante o período da campanha eleitoral e até ao encerramento da votação”.

No entanto, não só André Ventura tem mantido as suas participações regulares enquanto comentador desportivo e criminal na CMTV, como, como notou o jornal Público, o candidato também continua a publicar a sua coluna de comentário no jornal Correio da Manhã.

André Ventura recusou ainda que o comentário desportivo entre em conflito com esta portaria.

“Interpreto a lei no sentido de que o comentário político, que pode interferir diretamente com as escolhas dos eleitores está vedado neste período e não, no meu caso, o comentário de natureza desportiva ou jurídico-penal, que é o que faço", disse.