Segundo o jornal espanhol 'El País', este é o maior surto de listeriose registado no país, tendo afetado 131 pessoas, estando as autoridades a aguardar os resultados de 523 possíveis casos de infeção. A região mais afetada pelo surto foi a Andaluzia, com pelo menos 80 casos confirmados, um deles uma mulher de 90 anos que faleceu em Sevilha depois de a listeriose ter causado uma meningoencefalite fatal.
Transmitindo-se apenas através do consumo de alimentos infetados — ou entre uma mãe grávida e o feto — a bactéria Listeria, causadora de listeriose, terá sido propagada através da comercialização de lotes de carne assada infetada da marca La Mechá, fabricada pela empresa Magrudis.
A ministra da Saúde espanhola, María Luisa Carcedo, assegurou à rádio Cadena SER que o todos os produtos da empresa já foram retirados do mercado e que foi declarado o alerta sanitário a nível nacional, agindo tanto ao nível da segurança alimentar como da vigilância epidemiológica.
Contudo, apesar dos esforços das autoridades, o surto ainda não foi controlado, sendo que, na segunda feira, dia 19, foram identificados 40 novos casos, e ontem somaram-se outros 34. Neste momento, estão também sob avaliação casos noutros pontos de Espanha, estando a ser investigado um paciente em Madrid, quatro na região da Estremadura e dois na Catalunha. Todas estas pessoas terão viajado para a Andaluzia durante o surto ou terão consumido produtos trazidos da região. Está também sob investigação a possibilidade de esta epidemia ter causado dois abortos espontâneos.
Um dos fatores que terá agravado o problema terá sido a inoperância da Junta da Andaluzia, sendo que, segundo o diário espanhol, as autoridades do governo desta região autónoma só terão procedido à remoção da carne infetada do mercado no passado dia 14 quando já tinham obtido cinco dias antes as análises que comprovavam um resultado positivo para a presença da bactéria.
Avança o jornal que, a 8 de agosto, a Junta terá enviado duas amostras de carne — sendo uma delas a da marca Mechá — para o Laboratório Municipal de Sevilha, pretendendo confirmar se alguma delas poderia estar na origem do cada vez maior número de casos que começaram a surgir nessa cidade e em Huelva.
A resposta terá sido dada logo no dia seguinte, com o laboratório a confirmar que a amostra 700439/19, contendo carne da marca La Mechá, dava um resultado “altamente positivo” da bactéria Listeria, situação que voltou a verificar-se em análises subsequentes nos dias 10 e 12.
Só cinco dias depois, a 14 de agosto, é que a Justa terá dado ordens para retirar o produto e alertar a Magrudis para que parasse a produção. Antes, a 13, as autoridades terão voltado a pedir esclarecimentos quanto aos resultados das amostras pois terá ocorrido um erro de identificação, com a amostra de carne da La Mechá a ser declarada segura e a outra, proveniente de um fabricante de Málaga, a ser denominada a infetada. Diz o jornal que não foi ainda possível verificar se o erro partiu da própria Junta ao enviar as amostras ou se do laboratório a etiquetá-las.
Foi finalmente no dia 15 quando a Junta da Andaluzia declarou um alerta sanitário. Um dia depois descobriu-se que alguns dos lotes da carne infetada já tinham saído da região da Andaluzia, tendo as autoridades avisado as outras regiões autónomas. Os lotes de carne infetada terão sido comercializados, ainda que em pequenas quantidades, nas comunidades de Castela e Leão, Castela-Mancha e Tenerife, não se registando casos até à data.
O grande problema que as autoridades sanitárias espanholas agora enfrentam é que, apesar de já ter sido retirada das superfícies comerciais, a carne terá sido comprada por estabelecimentos como restaurantes e hotéis, tornando-se difícil controlar se ainda há espaços onde possa a vir ser consumida.
Contudo, apesar de a epidemia ainda grassar em Espanha, Portugal não terá sido afetado pelo surto. Em declarações à rádio Renascença, o diretor-geral da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) confirmou que os lotes de carne não foram importados para Portugal. A prevenir essa eventualidade esteve a Rede de Alerta Rápido, lançada pela Comissão Europeia, que notificou as autoridades espanholas.
Segundo a informação disponibilizada pela Direção-Geral de Saúde, a listeriose tem como sintomas “gastroenterite com febre, náuseas e diarreia”. Esta doença “tem um período de incubação médio de 3 semanas, podendo variar entre 3 e 70 dias”, mas não se desenvolve na maioria dos adultos saudáveis após infeção da bactéria. No entanto, a listeriose pode ser fatal em determinados grupos de risco, “especialmente em imunodeprimidos e recém-nascidos”.
Em Portugal, a listeriose é uma doença de notificação obrigatória desde 2014, através do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE).
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária alerta ainda os viajantes que tenham como destino aquela região de Espanha, para a necessidade de adoção de medidas preventivas, nomeadamente a eliminação de produtos daquela marca que eventualmente possam ter na sua posse.
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