Para o diretor da empresa Ipsos Mori, Ben Page, a vitória dos ‘tories’ é uma consequência da “exaustão” dos britânicos com o processo do ‘Brexit’ e uma escolha do “melhor” entre dois maus líderes partidários, Boris Johnson e Jeremy Corbyn.
“Parece que os conservadores vão ganhar as eleições, alimentadas por uma exaustão geral. A divergência sobre o ‘Brexit’ esgotou toda a gente, apesar de todo o processo ser uma confusão total. O público cansou-se e escolheu o candidato mais provável para completá-lo e, também, o melhor entre os maus, que é Boris Johnson”, afirmou à agência Lusa.
O estudo de opinião mais recente desta empresa, divulgado na sexta-feira, indica uma vantagem de 12 pontos percentuais entre os 42% de intenções de voto no Partido Conservador e 32% no Partido Trabalhista, enquanto que os Liberais Democratas caíram para 13% e o Partido do Brexit para 2%.
Outras sondagens têm mostrado diferenças maiores ou mais menores, entre 15% e 6%, mas a média tem sido em redor dos 10 pontos ao longo das quatro semanas de campanha desde que as eleições foram convocadas, no final de outubro, e sempre com o ‘Labour’ em segundo lugar.
A mesma sondagem da Ipsos Mori confirma tendências registadas por outros estudos: os britânicos têm uma imagem negativa do primeiro-ministro e líder conservador, Boris Johnson, resultando numa classificação negativa de -20, mas a do líder trabalhista, Jeremy Corbyn, é muito pior, de -44.
“A diferença ainda é maior do que entre os partidos”, vinca Page.
Os especialistas em sondagens têm sido cautelosos nas previsões devido aos erros registados nas eleições legislativas de 2017, quando a maioria das sondagens não antecipou uma recuperação de Jeremy Corbyn relativamente a Theresa May, fazendo os conservadores perderem a maioria absoluta.
Na altura, o único estudo que previu um parlamento sem maioria absoluta [hung parliament] foi da empresa YouGov, usando um método inovador chamado Multilevel ‘regression and poststratification’ (MRP), que prognosticou com sucesso a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA em 2016.
A única sondagem que aplicou esta metodologia nestas eleições legislativas de 12 de dezembro foi publicada pelo jornal The Times no final de novembro e concluiu em geral o mesmo que as outras sondagens, ou seja, que o Partido Conservador vai ter uma maioria absoluta confortável.
O académico John Curtice, descrito muitas vezes como “guru das sondagens” devido à experiência e idoneidade, adiantou que estas eleições estão a ser marcadas pelo ‘Brexit’ e que o Partido Conservador conseguiu concentrar mais votos dos eleitores eurocéticos do que o Trabalhista dos eleitores pró-europeus.
“Os Conservadores têm agora 70% dos votos dos eleitores favoráveis à saída, enquanto que o ‘Labour’ tem apenas metade do voto dos que querem ficar [na União Europeia]. E é esse diferencial que é absolutamente central para o resultado provável destas eleições”, disse, num encontro com jornalistas estrangeiros.
Mas também lembrou exemplos de eleições com reviravoltas dramáticas como, por exemplo, em fevereiro de 1974, quando o primeiro-ministro conservador, Edward Heath, conseguiu mais votos, mas elegeu menos três deputados do que o trabalhista Harold Wilson.
“Nem o modelo MRP nem as sondagens normais nos dizem o que pode acontecer nos próximos dias, nem se as coisas podem mudar”, alertou Joe Greenwood, académico da universidade London School of Economics, especialista em opinião pública e participação política.
Uma das dificuldades das previsões eleitorais no Reino Unido é o sistema de voto de maioria simples [First Past the Post] em círculos uninominais, onde as vitórias podem ser influenciadas por fatores locais e decididas por poucos votos.
Os especialistas concordam que, atualmente, Boris Johnson encaminha-se para uma maioria absoluta dos 650 assentos da Câmara dos Comuns, cuja proporção pode variar, mas se a margem para o Partido Trabalhista descer para apenas 6%, o risco de um parlamento dividido é maior.
“O desafio com o sistema eleitoral britânico é que não temos representação proporcional. É possível obter 35% dos votos, como Tony Blair [em 2005] e conseguir uma maioria, ou 36% como David Cameron [em 2010] e não ter deputados suficientes e ser obrigado a formar uma coligação”, explicou Ben Page à Lusa.
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