A oposição - que controla o Parlamento - precisa de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) confirme cerca de 200.000 assinatura, do 1,3 milhão que recolheu em abril e que foram aceites pelo organismo.
Os cálculos da coligação Mesa da Unidade Democrática (MUD) são optimistas: até quinta-feira, 23 dos 24 estados informaram ter conseguido o mínimo requerido, o equivalente a 1% do colégio eleitoral de cada região. Somente em Nueva Esparta - da qual a turística ilha Margarita é a capital - faltava validar cerca de 200 assinaturas. Perante isto, o líder opositor Henrique Capriles, principal promotor do referendo, viajou a ilha para vigiar a jornada, que coincide com um feriado nacional. "Neste grande esforço vamos dar uma lição", declarou Capriles, assinalando que o governo "acreditou que por ser um estado insular, poderia manipulá-lo". "O total de assinaturas validadas até o momento é de 326.381. Superamos todos os obstáculos", assinalou a deputada Delsa Solórzano.
Cumprido o prazo de validação, o processo entra numa etapa de incerteza, pois o CNE - acusado pela oposição de servir os interesses do governo - anunciará no dia 26 de julho se a meta foi alcançada.
"A mudança não será imediata"
Durante a semana, a MUD denunciou uma sabotagem do governo contra o reconhecimento de assinaturas através demoras, bloqueio logístico e ameaças veladas de suspensão do trâmite. Os adversários de Maduro impulsionam o revogatório apoiados na grave crise económica, que nas últimas semanas aumentou a tensão social com roubos em várias cidades que deixaram pelo menos cinco mortos.
Uma escassez de 80% dos alimentos e a inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015), além dos altos índices de criminalidade, motivam a rejeição a Maduro, que, segundo uma sondagem da empresa Datanálisis, tem apenas 25% de apoio. "A mudança não será imediata, mas o referendo é um passo", disse Eugenia Parra, de 28 anos, estudante de Farmácia, enquanto estava na fila para comprar alimentos num supermercado do leste de Caracas. Parra não pôde validar a sua assinatura, pois teve que dividir o tempo entre as longas filas para alimentar a família, os estudos e um trabalho a meio tempo numa clínica.
Nos arredores do mesmo supermercado, Ramón Bernay, economista aposentado de 64 anos, esperava a sua vez e afirmou que "este ano não haverá referendo". "Não vão tirar o Maduro nem pela OEA, nem por golpe. Faço filas todos os dias e esta situação enoja-me, mas resisto porque o que há aqui é uma guerra económica da burguesia", afirmou.
Maduro considera impossível que o revogatório possa ocorrer este ano, por os prazos legais não o permitirem. Para a oposição é fundamental que a consulta seja realizada antes do dia 10 de janeiro de 2017, pois se Maduro for revogado antes desse dia, haverá eleições antecipadas. Se ocorrer depois dessa data, o mandatário socialista poderá eleger sucessor em caso de derrota. "Se houver, iremos e ganharemos; e se não houver, a vida política do país continuará", sustentou o governante na quinta-feira (23).
Neste momento, se o CNE ativar a consulta, a oposição deverá recolher quatro milhões de assinaturas para convocá-la. E para depor Maduro, o "sim" deve conquistar mais do que os 7,5 milhões de votos com os quais foi eleito.
A crise venezuelana foi discutida na quinta-feira pelo Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), numa sessão especial que concluiu sem decisões quanto a castigar diplomaticamente o governo chavista. Invocando a Carta Democrática, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse que a Venezuela vive "uma grave alteração da ordem constitucional" e democrática, e chamou os países-membros a apoiarem o referendo. Face à tensão interna e às pressões internacionais, Maduro multiplicou nos últimos dias o seu apelo à oposição para iniciar um diálogo, mas ela assegura que o revogatório não é negociável.
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