A invasão da Academia de Alcochete em 15 de maio por cerca de 40 adeptos encapuzados, dos quais 27 foram detidos e ficaram em prisão preventiva, levou nove jogadores da equipa principal do clube lisboeta a rescindirem contratos alegando justa causa e esteve na base da destituição de Bruno de Carvalho.
O presidente do Sporting, que foi destituído por decisão da maioria dos sócios que votaram na Assembleia Geral extraordinária de 23 de junho, tinha sido um dos mais interventivos no debate subordinado ao tema da violência no desporto, realizado na Assembleia da República (AR) no mês anterior às agressões.
O país reagiu em uníssono na condenação à violência em Alcochete, da qual o antigo líder da claque Juventude Leonina Fernando Mendes é um dos suspeitos, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou-se “vexado pela imagem projetada de Portugal no mundo”.
A Liga de clubes falou em “página negra” do futebol nacional e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) exigiu “a punição dos responsáveis pelos atos criminosos” de Alcochete, que o Ministério Público considera serem suspeitos de vários crimes, entre os quais de terrorismo.
A poucos dias da final da Taça de Portugal, entre o Sporting e o Desportivo das Aves, que os avenses venceram por 2-1 e que decorreu sem incidentes, a FPF voltou a reclamar a urgência na criação de uma autoridade administrativa autónoma para o combate à violência no desporto.
O presidente da FPF, Fernando Gomes, já tinha proposto durante o debate realizado em abril na AR a criação de um “organismo central, autónomo e especializado, [...] dotado de recursos e não apenas de atribuições e competências”, uma vez que a legislação existente parece ser adequada.
A pretensão do líder federativo só encontrou eco no Governo um dia depois dos acontecimentos de Alcochete, quando o primeiro-ministro, António Costa, anunciou a intenção de “avançar para uma autoridade nacional que permita responder à violência no desporto”.
A invasão da academia do Sporting não foi caso único nesta temporada. Em janeiro, cerca de 30 adeptos do Vitória de Guimarães agrediram vários jogadores em pleno centro de treino do clube, voltando a ser notícia no mês seguinte, devido a confrontos com apoiantes do Sporting de Braga, dos quais resultaram oito feridos.
O “clima de ódio” no futebol português foi denunciado pelo Conselho de Arbitragem da FPF logo no início da época, na sequência da vandalização do prédio onde habitava o árbitro Vasco Santos, e alastrou-se à II Liga, com uma pessoa a ficar ferida devido a confrontos entre adeptos da Académica e do Famalicão.
Nos campeonatos distritais, o jogo entre o Beira-Mar e o União de Lamas foi suspenso ao intervalo, depois de o árbitro ter sido agredido por um adepto do clube aveirense, mas a violência no desporto em 2017/2018 não se resumiu ao ‘desporto rei’.
Em abril, confrontos entre jogadores e adeptos das equipas de râguebi de Agronomia e Direito levaram à anulação da final do campeonato nacional, à suspensão de 11 atletas e à despromoção dos dois clubes ao último escalão.
Há apenas duas semanas, o árbitro de futsal Sérgio Magalhães, que fez parte da equipa que dirigiu o terceiro jogo da final do Nacional, entre o Sporting e o Benfica, foi agredido junto ao seu local de trabalho, tendo de receber assistência hospitalar.
A violência de épocas anteriores também afetou o ano desportivo, com a notícia do adiamento do início do julgamento do homem acusado do homicídio do italiano Marco Ficini, adepto do Sporting, junto ao Estádio da Luz, num processo que tem mais 21 arguidos, por outros crimes.
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