"O autor da operação (...) realizada em Nice, na França, é um soldado do Estado Islâmico. Ele executou a operação em resposta aos apelos do Estado Islâmico para atacar os países da coligação que combate o EI", informou a agência Amaq, ligada ao grupo extremista. Esta reivindicação surge num momento em que não há indícios que relacionem o assassino ao Islão radical.

Na quinta-feira à noite,Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, semeou o terror ao lançar o camião que conduzia contra uma multidão que assistia ao fogo de artifício por ocasião do feriado nacional de França, na Promenade des Anglais. Matou 84 pessoas, incluindo dez crianças. Segundo uma fonte hospitalar, 16 corpos continuam sem identificação neste sábado.

Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, um tunisino de 31 anos e motorista de entregas, em vias de divórcio, era "totalmente desconhecido dos serviços de inteligência (...) e não havia qualquer registo de radicalização", segundo o procurador de Paris François Molins. O mesmo procurador sublinhou, contudo, que este ataque correspondia "exatamente aos apelos permanentes dos jihadistas por assassinatos".

Cinco pessoas detidas

No comunicado deste sábado, os responsáveis do Estado Islâmico gabam-se do "novo" modus operandi utilizado por "um soldado do EI" para cometer os assassinatos. O EI adverte os "Estados cruzados" que continuará com os  ataques, não importa o quão forte seja a sua segurança. Apesar das ligações do autor do ataque de Nice com o islamismo radical serem questionáveis, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, disse na sexta-feira à noite que o homem "é um terrorista ligado ao Islão radical, de uma forma ou de outra".

Mas, o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, recusou-se a confirmar se o homem estava ligado ao islamismo radical. Mohamed Lahouaiej-Bouhlel era conhecido da justiça apenas por factos "de ameaças, atos de violência, roubo e vandalismo cometidos entre 2010 e 2016". De acordo com seu pai,Bouhlel sofreu de depressão no início dos anos 2000 e não tinha qualquer ligação com a religião. "De 2002 a 2004, teve problemas que causaram um colapso nervoso. Ficava irritado, gritava, partia tudo que aparecesse à frente", disse Mohamed Mondher Lahouaiej-Bouhlel à AFP a partir da sua casa, na cidade de Msaken (leste da Tunísia).

Outras quatro pessoas próximas do tunisino foram entretanto colocadas sob custódia. A ex-mulher do homem, morto pela polícia após o atropelamento de famílias inteiras e turistas na Promenade des Anglais, permanecia também sob custódia neste sábado de manhã. Oito meses após os ataques jihadistas de Paris, que fizeram 130 mortos, o país voltou ao luto nacional por três dias. Neste contexto de tensão, o presidente François Hollande reuniu um segundo Conselho de Defesa no Palácio do Eliseu antes de se reunir com o seu gabinete para discutir a situação.

Falhas na segurança?

Muitos jornais questionavam neste sábado como é que um camião frigorífico de 19 toneladas conseguiu entrar na quinta-feira à noite, no meio das comemorações do 14 de julho, num local reservado aos peões e protegido pelas forças de segurança, mobilizadas por um estado de emergência. As respostas ainda estão a ser apurdas, mas o primeiro-ministro Manuel Valls procurou na sexta-feira à noite acalmar as críticas, negando qualquer falha das forças de segurança.

Pelo menos 17 estrangeiros também foram mortos no ataque, incluindo três alemães, dois americanos, três tunisinos e três argelinos. Um minuto de silêncio será observado na segunda-feira às 12h00 no país em memória das vítimas. O presidente francês anunciou a prorrogação por mais três meses do estado de emergência imposto após os ataques de 13 de novembro.

O EI, um grupo ultrarradical sunita que anunciou em 2014 o estabelecimento de um "califado islâmico" em áreas sob o seu controlo na Síria e no Iraque, realizou ataques mortais em vários países do mundo que deixaram centenas de mortos e feridos. O grupo extremista lança apelos frequentes para que seus simpatizantes realizem ataques em países envolvidos na coligação internacional liderada por Washington, que realiza desde setembro de 2014 ataques aéreos contra posições extremistas na Síria e no Iraque. 

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