Quando se assinala um ano e meio da invasão da Ucrânia, as promessas de entregas de caças F-16 a Kiev pelos Países Baixos e Dinamarca, após luz verde de Washington na passada semana, são o último exemplo de como os países ocidentais se têm adaptado e aumentado a relevância do seu apoio desde 24 de fevereiro de 2022, à medida que as forças ucranianas foram, não só resistindo às investidas russas, como lançado uma contraofensiva, ?com ganhos territoriais, como aqueles que foram registados nos últimos dias.
Nos dados do Instituto Kiel, que quantificou, com base em anúncios públicos dos aliados de Kiev o apoio prometido por 41 países em ajuda financeira, militar e humanitária, entre 24 de janeiro de 2022 e 31 de maio deste ano, os Estados Unidos surgem destacados como os principais contribuintes globais, com 70,7 mil milhões de euros (dos quais 42,8 mil milhões em ajuda militar e 24,2 mil milhões em financeira), seguidos pelas instituições da União Europeia (35,06 mil milhões), pelo Reino Unido (10,74 mil milhões), pela Alemanha (10,68 mil milhões) e pelo Japão (6,62 mil milhões).
Portugal surge no levantamento do instituto alemão com um total de 327 milhões euros – 25.º da lista em termos globais e 20.º em função do Produto Interno Bruto (PIB) -, dos quais a maior parte (250 milhões) foram compromissos financeiros.
Os países bálticos (Lituânia, Letónia, Estónia), por sua vez, são os principais contribuintes em termos da sua riqueza.
Se a contribuição destes países parece irrisória em comparação com a dos Estados Unidos – 1,41 mil milhões de euros, ou 50 vezes menos do que a dos norte-americanos – são a Estónia, a Letónia e a Lituânia que estão a fazer o maior sacrifício para ajudar a Ucrânia.
Num ano, estas três repúblicas, também ocupadas pela União Soviética durante décadas até à sua independência em 1991, dedicaram respetivamente 1,26%, 1,09% e 0,95% do seu PIB. Em comparação, o esforço norte-americano é de apenas 0,33% do seu produto e o de Portugal ainda mais baixo, com 0,14%.
Em geral, são aliás os países que fazem fronteira com a Ucrânia e a Rússia que estão a envidar os maiores esforços.
A Polónia e a Eslováquia, que completam os cinco principais contribuintes em proporção à sua riqueza, comprometeram-se com 0,68% e 0,63% do seu PIB, respetivamente.
A Polónia esteve na vanguarda no fornecimento de equipamentos militares de conceção soviética a partir da primavera de 2022 e depois na linha da frente para pressionar a Alemanha, desde o início de 2023, para obter autorização de Berlim para o envio de tanques modernos alemães Leopard2, o que veio a acontecer, a que se juntaram vários outros países, incluindo Portugal.
Alvo da pressão foi também Washington, para a libertação dos caças F-16 tão ambicionados por Kiev, tendo sido criada uma coligação internacional a que Lisboa igualmente pertence.
Mas nem todos os países que fazem fronteira com a Ucrânia são generosos. A Hungria, por exemplo, é um dos menores contribuintes (0,03%). O seu primeiro-ministro, Viktor Orban, que sempre teve o cuidado de não hostilizar o Presidente russo, Vladimir Putin, é um crítico das entregas de armas ocidentais.
Na Eslováquia, o apoio do Governo ao país vizinho valeu-lhe também a condenação do antigo primeiro-ministro populista Robert Fico, cujo partido, o Smer-SD, está numa boa posição nas sondagens antes das eleições gerais marcadas para setembro.
Entre os países mais populosos da UE, menos afetados geograficamente pelo conflito, a Alemanha está a fazer o maior esforço (0,27% do PIB), muito à frente da Itália (0,07%), Espanha (0,06%) e França (0,05%).
Finalmente, o Japão é o maior doador que não é membro da União Europeia nem da NATO. A sua contribuição de mais de seis mil milhões de euros (0,15% do PIB) é quase exclusivamente financeira.
Estados Unidos e os países europeus, na maioria membros da Aliança Atlântica, são os maiores parceiros da ajuda militar à Ucrânia, que, começou com apoios humildes.
O envio de caças F-16, que só devem chegar aos céus da Ucrânia em 2024, é a mais recente etapa de um apoio que, no início do conflito, se limitava a armas ligeiras, lança-rockets, e equipamentos de proteção individual para um Exército essencialmente ainda munido com meios do período soviético.
Mas a ajuda militar foi evoluindo para entregas de obuses, lançadores múltiplos de ‘rockets’ HIMARS, helicópteros de combate, tanques modernos, como os alemães Leopard2, os britânicos Challenger2 e futuramente os norte-americanos Abrams, e outro armamento sofisticado, como sistemas de defesa antiaérea Patriot, mísseis longo alcance Storm Shadow, ‘drones’ com capacidade de penetrar as linhas inimigas e até bombas de fragmentação norte-americanas.
Segundo o Instituto Kiel, os Estados Unidos surgem destacados como os principais parceiros bilaterais militares de Kiev, com 42,8 mil milhões de euros, seguidos da Alemanha (7,2 mil milhões), Reino Unido (6,6 mil milhões) e Polónia (três mil milhões).
Entre os aliados da Ucrânia, a Alemanha e a Polónia são os que acolhem o maior número de refugiados (entre um total de 5,9 milhões na Europa), respetivamente 1,06 milhões e 995 mil em agosto, muito à frente da República Checa (362 mil), enquanto Portugal registava 56 mil em junho, segundo dados do Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR).
Mas, proporcionalmente à sua população, é o Montenegro o mais acolhedor, à frente da Estónia, Moldova e República Checa.
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