Lurdes Costa, ou simplesmente Dona Lurdes, tem 64 anos, 35 dos quais a morar "no bairro” que descreveu à Lusa como “uma família”, foi a moradora que mais apoiou a construção, oferecendo alimentação aos jovens arquitetos e engenheiros, mostrando-se emocionada aquando da entrega do equipamento.

“Sinto-me mesmo bem. Também nervosa porque espero que os miúdos saibam que isto é para brincar. Faltava um incentivo e atrás deste queremos mais. Este vai servir para ensinar os meninos a amassar farinha, fazer pizza e comer aqui. Vamos plantar umas ervas aromáticas no jardim. Vamos fazer disto um paraíso”, afirmou.

Apontou "o estigma” que existe à volta do conjunto habitacional da Guarda, visto que antes havia “tráfico de droga”, problema que diz ter vindo a melhorar, e recordou tempos anteriores à existência dos “blocos habitacionais”, numa altura em que o espaço era “um ermo saudável”.

“Fomos sete ou oito à apresentação do projeto, mas no final só fiquei eu. Gostei do que ouvi e a partir daí foi andar para a frente. Tenho andado no meio deles porque asseguro as refeições, adoro a equipa que está aqui. São espetaculares, de países diferentes, mas parece que nasceram aqui. Formou-se uma família, vai ser difícil vê-los a ir embora, ficam no coração”, confessou.

Um dos elementos dessa família é a estudante Debora Berardi, de 28 anos, vinda da cidade italiana de Perúgia para a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), em Erasmus, tendo descoberto o projeto através da Porto Academy, uma escola de verão organizada pela CA e pela Faculdade de Arquitetura do Porto (FAUP).

“Nunca tinha feito uma coisa para a comunidade e com eles. A construção do projeto foi fixe, posso dizer ‘fixe’?”, questionou, em bom português, antes de explicar que, apesar de estudar engenharia e estar no meio de arquitetos, ali “todos aprendem com todos”, naquilo que foi “uma experiência prática” antes de entrar no mercado de trabalho.

Contou que no início não foi fácil “porque havia gente que não sabia que era para participarem”, mas avaliou o final do trabalho final como muito positivo, “havia muitos meninos a brincar antes da inauguração” e diz que esta é uma obra “para a comunidade”.

“Sou engenheira, mas acho que a arquitetura quando tem qualidade quando se fazem as coisas para as pessoas, não para os monumentos. Os arquitetos estão a criar um monumento para as pessoas, não só para ver”, vincou.

Uma casa não só para ver, mas também para “brincar”, como corrigiu Íris, de 11 anos, moradora do bairro que tinha pedido “um baloiço ou trampolins”, mas rendeu-se à “boa estrutura, bem construída e muito gira” do espaço com quatro divisões, sendo uma delas fechada.

“Agora vou brincar, tomar conta também. Se alguém se estiver a portar mal vou avisar e chamar à atenção. Podemos estar ali a jogar às cartas, às apanhadinhas, mas dentro não. Só cá fora”, vincou.

O segundo projeto de “O lugar de partilha”, laboratório de autoconstrução da CA, encontrou umas “elevadas” expectativas por parte da população, sendo “difícil transmitir que, em duas semanas, não é possível construir o que pretenderiam”, como contou a coordenadora Carla Barros.

“Queríamos que fosse um espaço de dinamização do interior do bairro e de convite à população que está fora deste núcleo. Reunimos com a população para a ouvir e ir ao encontro das expetativas. É construído pelas mãos dos próprios projetistas, os materiais são escassos e teríamos de tentar moldar às expectativas, dentro das condições que tínhamos”, disse.

A relação com os estudantes foi “simples”, sendo que “esta é uma experiência de estar no terreno e pôr em prática um trabalho projetado por eles”, com um resultado final “fantástico”, um projeto “10 vezes melhor que o do ano passado”.

“O ‘não só’ [do título do projeto “Uma casa de brincar e não só”] refere-se ao que esta pode ser e ganha a forma que cada um entender. Esta casa deve ser versátil, aberta e disponível para se transformar nos sonhos de quem a quiser ocupar”, finalizou.

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