O Departamento de Defesa dos EUA disse que o primeiro balão, cuja presença foi anunciada esta quinta-feira, sobrevoava o centro dos Estados Unidos em direção à zona oeste na sexta-feira, acrescentando que não seria abatido por razões de segurança. E indicou que um segundo balão tinha sido avistado.

"Observamos relatos de um balão a transitar pela América Latina. Avaliamos agora que é um outro balão de vigilância chinês", informou o porta-voz do Departamento de Defesa, Pat Ryder, sem especificar a localização exata do balão.

Na véspera, o Pentágono anunciou a deteção de um suposto balão espião chinês no espaço aéreo dos Estados Unidos, o que ele classificou como um "ato irresponsável", apesar das autoridades chinesas terem afirmado que se tratou de um incidente involuntário.

Blinken comunicou com um funcionário de alto nível chinês. "Trata-se de um ato irresponsável e de uma violação clara da soberania americana e do direito internacional, que mina o propósito da viagem", disse-lhe, segundo o porta-voz do Departamento de Estado americano.

"Tomamos conhecimento de que a China lamenta o ocorrido, mas a presença desse balão no nosso espaço aéreo é uma violação clara da nossa soberania, assim como do Direito Internacional, e é inaceitável", afirmou um funcionário americano que pediu para não ser identificado.

Neste contexto, a visita de Blinken a Pequim, prevista para domingo e segunda-feira, "foi adiada" e será reprogramada quando "as condições forem adequadas", acrescentou a mesma fonte. Ryder foi taxativo: "trata-se de um balão espião."

Inicialmente, o governo chinês pediu que não houvesse exageros sobre o assunto, mas acabou por reconhecer que efetivamente se tratava de um aparelho procedente da China.

"Trata-se de uma aeronave civil utilizada para fins científicos, principalmente meteorológicos", declarou um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês em comunicado.

Por causa do vento, o balão "desviou a sua trajetória", disse, e acrescentou que o seu país "lamenta" que o mesmo tivesse entrado no espaço aéreo dos Estados Unidos por "uma força maior".

Numa nota divulgada neste sábado, o Ministério dos Negócios Estrangeiro afirmou que "alguns políticos e meios de comunicação nos Estados Unidos" usaram "o incidente como pretexto para atacar e difamar a China".

"A China (...) nunca violou o território e o espaço aéreo de nenhuma nação soberana", acrescentou.

O principal funcionário do Partido Comunista da China para a diplomacia destacou que o seu país age de forma "responsável" e "sempre respeitou rigorosamente as leis internacionais", segundo a agência noticiosa oficial China News.

Por onde passou esse balão?

"Posso dizer que o balão se dirige para o oeste e se encontra atualmente sobre o centro do país", a 18.000 m de altitude, e permanecerá em território norte-americano por alguns dias, informou o porta-voz do Pentágono. O balão voa "a uma altitude muito acima da do tráfego aéreo comercial e não representa uma ameaça militar ou física para as pessoas em terra".

Segundo a imprensa norte-americana, o balão sobrevoou as Ilhas Aleutas, no norte do Oceano Pacífico, e o Canadá, antes de entrar no espaço aéreo dos Estados Unidos, há dois dias.

Concretamente, o balão sobrevoou o estado de Montana, que abriga instalações de mísseis nucleares, onde foram mobilizados aviões de combate que se aproximaram dele, informou ontem um funcionário do Pentágono, que pediu para não ser identificado.

Segundo essa fonte, decidiu-se por não derrubar o balão devido aos riscos que representariam os possíveis destroços para as pessoas em terra. Além disso, o Pentágono considerou "limitada" a capacidade do objeto para recolher informações.

O governo canadiano acrescentou hoje que estava a investigar um "potencial segundo incidente". "O Canadá está a tomar as medidas para garantir a segurança do seu espaço aéreo, incluído a monitorização de um possível segundo incidente", informou o Ministério da Defesa canadiano em comunicado, sem entrar em detalhes.

Esta não é a primeira vez que o Exército norte-americano regista uma intrusão deste tipo, mas, nesta ocasião, o objeto permaneceu mais tempo no espaço aéreo dos Estados Unidos.

O incidente desencadeou fortes reações entre os políticos norte-americanos.

"Esta violação da soberania americana, poucos dias antes da visita do secretário de Estado Blinken à China, mostra que os sinais recentes de abertura" por parte das autoridades chinesas "não refletem uma mudança real de política", comentaram os líderes republicano e democrata de um comité parlamentar sobre a China, Mike Gallagher e Raja Krishnamoorthi.

"Abatam esse balão!", exigiu o ex-presidente republicano Donald Trump na sua rede social, Truth Social.

A visita de Blinken à China seria a primeira de um secretário de Estado americano desde outubro de 2018, no momento em que os dois países tentam evitar que as tensões entre ambos levem a um conflito aberto.

Entre os muitos temas polémicos destacam-se Taiwan, que a China considera parte do seu território, e as atividades de Pequim no Mar do Sul da China.