O relatório do Departamento de Defesa norte-americano baseia-se no aviso militar, do ano passado, de que a China está a expandir a sua força nuclear muito mais rapidamente do que as autoridades norte-americanas previram, mostrando uma ampla e acelerada acumulação de poder militar destinado a permitir a Pequim igualar ou ultrapassar a potência global dos EUA até meados do século.

No ano passado, o Pentágono disse que o número de ogivas nucleares chinesas poderia aumentar para 700 em seis anos e ultrapassar as 1.000 em 2030.

O novo relatório diz que a China tem atualmente cerca de 400 ogivas nucleares, e esse número pode aumentar para 1.500 até 2035.

Os EUA, por comparação, têm 3.750 ogivas nucleares ativas.

O crescente arsenal de Pequim está a suscitar incerteza a Washington, à medida que equaciona como dissuadir duas potências nucleares, a Rússia e a China, em simultâneo, disse o Pentágono na sua recente revisão da postura nuclear.

A acumulação pela China também cria incerteza sobre as suas intenções, disse Bonny Lin, diretor do ChinaPower do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede nos EUA.

“Não podemos assumir que, se tiverem mais capacidades, a sua política vai continuar a mesma. Esta é a incerteza”, referiu.

O relatório analisa as atividades da China em 2021 e, por isso, não avalia o impacto que a invasão da Ucrânia pela Rússia pode ter nas prioridades ou estratégias de militarização das autoridades chinesas, nem em que medida enfraqueceu ou fortaleceu as relações de Pequim com Moscovo, disse um alto funcionário da defesa em declarações à imprensa, antes da divulgação do relatório, sob a condição de anonimato.

Embora a China não tenha fornecido armas à Rússia no atual conflito, a sua amplificação da desinformação russa e apoio continuado a exercícios militares conjuntos com a Rússia é algo que os EUA estão a monitorizar de perto, revelou este responsável.

A China também está a acompanhar de perto a forma como a comunidade internacional reage à ameaça da Rússia de usar armas nucleares na Ucrânia, disse John Erath, diretor sénior de política do Centro de Controlo e Não Proliferação de Armas.

Na sua análise, “se a Rússia conseguir ganhar os seus objetivos através de ameaças nucleares, a China poderá tirar proveito disso e, potencialmente, fazer este tipo de ameaças contra Taiwan ou outros países vizinhos em relação às ambições territoriais da China”.

O relatório anual é publicado apenas duas semanas depois de o Presidente norte-americano, Joe Biden, se ter reunido com o Presidente chinês, Xi Jinping, à margem da cimeira do G20 (as maiores economias mundiais), em Bali, na Indonésia, o seu primeiro encontro presencial desde que Biden se tornou Presidente, em janeiro de 2021.

Durante a reunião de quase três horas, Biden opôs-se diretamente às “ações coercivas e cada vez mais agressivas” da China em relação a Taiwan, mas também disse que os EUA não estão à procura de conflitos com Pequim.

A China considera Taiwan uma “linha vermelha”, disse o ministro da Defesa, Wei Fenghe, ao secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, no Camboja, na semana passada, de acordo com um comunicado do Ministério da Defesa chinês.

No relatório de 2022 do Pentágono lê-se que se Pequim conseguisse, como tem declarado que pretende, colocar a ilha sob o seu controlo, este objetivo, traçado para 2027, “poderia dar às capacidades (do Exército popular de Libertação) uma ferramenta militar mais credível para o Partido Comunista Chinês exercer a forma como prossegue a unificação de Taiwan”.

Os EUA gastaram milhares de milhões de dólares em armas militares em Taiwan para construir as suas defesas e ajudá-la a rejeitar qualquer potencial ataque.

O mesmo alto funcionário da defesa salientou que o Departamento de Defesa não vê uma ameaça iminente de invasão de Taiwan, mas sim o estabelecer de um novo normal marcado pelo aumento da intimidação.

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