"Com a saída do Reino Unido, é a favor do relançamento do processo de alargamento da UE, designadamente aos países dos Balcãs? E a Turquia?", foi uma das perguntas que a agência Lusa colocou às 17 forças políticas candidatas às eleições de 26 de maio para o Parlamento Europeu, num questionário ao qual só PNR, PTP e PURP não responderam.
Nuno Melo, que encabeça a lista do CDS-PP, defendeu que "a UE deve parar para meditar, em vez de promover alargamentos". Quanto à Turquia, afirmou: "Sempre contestei a adesão da Turquia, por razões geográficas, identitárias, de mercado e de segurança".
"Só uma ínfima parcela da Turquia é geograficamente europeia. A identidade matricial comum da UE é judaico-cristã, ao contrário da turca, que é islâmica", argumentou o eurodeputado centrista.
O cabeça de lista da coligação Basta! (PPM/ PPV-CDC), André Ventura, assumiu uma posição semelhante, dramatizando a questão: "Se houver um alargamento à Turquia, será o fim da UE tal como a conhecemos e poderemos enfrentar uma grave crise de identidade e civilização com uma avalanche de muçulmanos a espalharem-se pelas principais capitais europeias".
Segundo André Ventura, "o alargamento da UE tem sido trágico nalguns casos, como aconteceu com a Roménia, que não estava minimamente preparada para tal".
A candidatura do PSD, encabeçada por Paulo Rangel, respondeu que, "no que toca à Turquia, os desenvolvimentos políticos dos últimos anos, por porem em causa os critérios de Copenhaga, tornam altamente remota, para não dizer mesmo implausível, qualquer perspetiva de adesão" nesta altura, "é uma não-questão".
Portanto, "deve tentar-se a melhor relação de parceria" com a Turquia "e aguardar por melhores tempos". Quanto aos Balcãs, a candidatura social-democrata admite que "a estabilização da região pode muito bem passar por futuras adesões", sem nomear nenhum país.
O partido Iniciativa Liberal, que se apresenta às europeias com uma lista liderada por Ricardo Arroja, concorda que "o alargamento aos Balcãs não deve ser excluído se os países derem os passos certos nesse sentido".
A resposta do PS, que tem Pedro Marques como cabeça de lista, foi que a UE "deve concentrar-se no processo de integração europeia" neste momento, "e não em alargamentos que não estão em cima da mesa".
O número um da lista do Partido Democrático Republicano (PDR), António Marinho e Pinto, afasta igualmente, "para já", o relançamento do processo de alargamento e quer que haja primeiro "reformas políticas na configuração institucional da UE".
Porém, num futuro alargamento, para Marinho e Pinto, os países dos Balcãs "têm os seus lugares reservados" e a Turquia "deverá também poder aderir", embora isso suscite "resistências muito fortes no seio da Europa".
A candidatura do Pessoas-Animais-Natureza (PAN), encabeçada por Francisco Guerreiro, opõe-se ao alargamento da UE ditado por interesses económicos e centra a questão na democratização e respeito pelos direitos humanos dos países candidatos: "Aliás, os olhos têm-se fechado também em relação a países da UE como a Polónia e a Hungria e tal facto é preocupante".
No mesmo sentido, o Livre, que se candidata com Rui Tavares como cabeça de lista, frisou a importância de os países candidatos cumprirem "todos os critérios - desde logo os critérios democráticos e de defesa dos direitos humanos", observando: "O exemplo da Hungria mostra-nos que, infelizmente, esse nem sempre é o caso".
Para o Livre, "a UE não é, nem pode ser, um clube fechado" e "nenhum país deve, à partida, ser barrado de aderir" à União, se os respetivos cidadãos assim o desejarem, com "o apoio necessário para que tal se concretize num espaço de tempo razoável".
O Movimento Alternativa Socialista (MAS), que tem Vasco Santos como cabeça de lista, entende que "há espaço" para alargamentos "a outros povos como por exemplo os países Balcãs ou a Turquia", embora anteveja que "a UE na sua essência não vai trazer nada de bom para a Turquia a não ser mais muros e austeridade".
De acordo com o cabeça de lista da Aliança, Paulo Sande, a UE ainda sente "as consequências de um alargamento demasiado grande, feito em pouco tempo", mas "os alargamentos não deverão cessar", desde que "com conta peso e medida".
Quanto à Turquia, Paulo Sande apontou-a como "um caso especial", em que se verifica "manifesto incumprimento" dos critérios de adesão, "quer o político, que implica o respeito dos direitos humanos, democracia e primado da lei, quer o económico".
Paulo Morais, que encabeça a lista do partido Nós, Cidadãos!, qualificou como "prematuro o debate sobre o relançamento do alargamento da UE" e declarou-se "contrário à entrada na UE de países que não respeitem minimamente os direitos humanos", sem referir nenhum caso em concreto.
A candidatura da CDU (PCP/PEV), liderada por João Ferreira, respondeu que a opção de aderir ou não à UE deve "depender da vontade soberana de cada povo", acautelando-se "com os devidos meios financeiros as suas consequências económicas".
O Bloco de Esquerda, que tem Marisa Matias como cabeça de lista, também não se posicionou sobre casos concretos, limitando-se a responder que qualquer adesão "deve depender mais da vontade dos povos dos diferentes países" e "deve ser independente da saída de qualquer outro Estado-membro".
"Batendo-se pela saída da UE e do euro, e pelo desmantelamento desta organização do imperialismo europeu, nunca poderia o PCTP/MRPP acolher a ideia de um qualquer alargamento. Até porque, qualquer alargamento reforçaria o risco de guerra que o imperialismo acarreta", foi a resposta deste partido, que concorre às eleições europeias com uma lista encabeçada por Luís Júdice.
A UE, contando ainda com o Reino Unido, tem atualmente 28 Estados-membros. São países com o estatuto de candidatos a adesão a Albânia, a Macedónia do Norte, o Montenegro, a Sérvia e a Turquia.
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