O concelho de Vila de Rei, no distrito de Castelo Branco, foi o que registou no país menor abstenção nas europeias de 2014, com 45,61%, tendo exercido o seu direito de voto 1.603 eleitores de um total de 2.947 inscritos, segundo dados da Direção Geral de Administração Interna.
Maria Cremilda, de 87 anos, residente na vila que assinala o centro geodésico de Portugal, disse à agência Lusa lembrar-se bem dos tempos antes do 25 de Abril de 1974 — "um período de miséria" —, tendo afirmado que desde de que há eleições livres vai sempre votar.
"Vou sempre votar que é para ver se isto melhora e só se estiver muito doente é que não vou votar desta vez [dia 26 de maio]", assegurou Maria Cremilda, para quem o país "está muito melhor, apesar de haver, no seu entender, "muita gente a roubar".
Quanto a Vila de Rei, notou, "está muito melhor", apesar de "muito envelhecida".
Maria Natália Santos, por sua vez, disse à Lusa que vai sempre votar, - "cá pelas minhas ideias" -, tendo defendido ser "importante que a vila evolua e que os jovens não saiam da terra".
Questionada sobre se a União Europeia pode ajudar nessa "evolução", Natália Santos, de 77 anos, disse saber que "existe uma ligação entre a Europa e o desenvolvimento" de Vila de Rei.
"Não sei explicar bem, mas sei que é importante votar e vou votar porque a União Europeia tem influência para isto melhorar um bocadinho", afirmou.
Patrícia Novo, 33 anos, também faz parte da população que vota nas eleições europeias, dando conta da "importância do uso do direito de voto" e reconhecendo existirem "investimentos efetuados em Vila de Rei que derivaram da União Europeia".
Segundo a assistente técnica, solteira, "se não fosse assim, não haveria verbas para investimentos e construção de muita coisa no concelho e no país que conferiram um aumento do nível de qualidade de vida".
"Vou votar porque tenho direito a exercer a minha escolha e porque temos uma palavra a dizer neste processo eleitoral na União Europeia", salientou.
Luís Santos, 58 anos, professor, disse votar "sempre", porque é um "dever de cidadania participar nas eleições e fazer a opção que se entende como a mais correta".
O professor de matemática reconheceu existir "uma grande taxa de abstenção no país" e defendeu que as "eleições europeias são importantes" e que "foi o apoio a União Europeia" que "permitiu uma aproximação da qualidade de vida entre portugueses e demais países europeus".
"Basta recordar o que era este país na década de 70 e 80 e ver o que o nosso país é hoje", afirmou, considerando que "a população de Vila de Rei percebe essa ligação" e que "um estudo sociológico iria ajudar a perceber melhor" o nível de participação eleitoral naquele município.
Questionado pela Lusa, Ricardo Aires, presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei, disse interpretar a participação registada nas últimas eleições europeias como "um sinal de responsabilidade do povo de Vila de Rei", lembrando que durante décadas aquele município "era como uma península, isolada, e sem as pessoas saberem o que se passava".
Hoje, notou o autarca de 47 anos, "as pessoas sabem que a transformação do concelho nas últimas décadas, com a construção de acessibilidades, requalificação urbana, serviços públicos ao nível da GNR, saúde e educação, a construção de piscinas, campo de futebol, da biblioteca e do mercado diário, entre muitos outros, é devido aos fundos europeus".
Ricardo Aires, a cumprir o seu segundo mandato eleito pelo PSD, contou que a autarquia "disponibiliza sempre a frota de autocarros" do município "para transportar as pessoas das aldeias e lugares mais isolados até às mesas de voto" e estas "utilizam o serviço" que lhes é disponibilizado.
"Por um lado, existe no povo de Vila de Rei responsabilidade democrática, por outro, sabem estabelecer a relação da melhoria da sua qualidade de vida com o facto de estarmos integrados na União Europeia", afirmou.
"Desde a década de 90 foram muitos milhões de euros de investimento que não seriam possíveis realizar em Vila de Rei sem os fundos comunitários e também sem o apoio do Governo central e da própria Câmara Municipal, e a população tem noção disso porque se lembra bem de como era dantes", notou.
*Por Mário Rui Fonseca, da agência Lusa
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