A sua irmã esta terça-feira confirmou ao diário holandês AD que a menor tinha morrido no domingo passado.
Pothoven, conhecida no seu país por ter escrito a sua autobiografia, intitulada “Winnen of leren” (“Ganhar ou aprender”, em neerlandês), em que revelava ter sido vítima de abusos sexuais e agressões quando era mais pequena, despediu-se dos seus seguidores na rede social Instagram, anunciando que tinha decidido pôr fim à sua vida.
“Não vou estar com rodeios: vou estar morta dentro de 10 dias. Depois de anos de luta, a minha luta terminou. Por fim, vou ficar libertada do meu sofrimento, que é insuportável. Não me procurem convencer de que isto não bom. É uma decisão bem pensada e definitiva”, escreveu na sua mensagem de despedida.
No seu relato, já tinha “deixado de comer e beber durante um certo tempo” e sublinhou que estava “a respirar, mas sem estar viva”, o que a levou, “depois de muitas conversas e análises”, a cometer um suicídio assistido, rodeada pelos seus “pais, amigos e todos os seres queridos”.
No entanto, apesar da declaração de Noa, não se sabe ao certo como é que a jovem morreu. A notícia da sua morte tem-se revestido de contornos controversos, com meios de comunicação de todo o mundo a reportar que a jovem terá requerido aos médicos que procedessem a uma eutanasia. O SAPO24 foi um dos meios que avançou essa possibilidade.
Dada a privacidade com que a sua morte decorreu, é difícil apurar os contornos da sua morte. No entanto, a jornalista do Politico Naomi O'Leary procurou clarificá-los, escrevendo uma série de posts na rede social Twitter para explicitar que a jovem morreu à fome por escolha própria e de que não se tratou de eutanásia, até porque à jovem já lhe tinha sido negado esse procedimento.
No seu livro, a jovem explicou que tinha “ocultado as violações por vergonha e medo” e reconheceu ter inquirido em 2018, sem o revelar aos pais, a clínica Levenseinde (Final de vida, em neerlandês), situada na Haia, sobre as possibilidades que existiam. Segundo um perfil que lhe foi dedicado no jornal holandês Gelderlander, uma das opções que a jovem requereu foi eutanásia, algo que foi rejeitado pelos responsáveis da clínica.
“Pensam que sou muito jovem. Creem que devo terminar o tratamento psicológico e esperar que o meu cérebro esteja completamente desenvolvido. Isto não acontecerá até que tenha 21 anos. Estou destroçada, porque não posso esperar tanto. Revivo o medo e a dor diariamente. Sinto que o meu corpo ainda está sujo”, escreveu na autobiografia.
Escreve a jornalista do Politico que nos últimos meses Noa tinha tentado suicidar-se várias vezes, o que levou a sua família a requisitar terapia eletroconvulsiva, algo que foi recusado dado a idade da jovem. Tendo Noa recusado novos tratamentos, a família pediu para ser instalada uma cama de hospital em casa, para que pudesse ser cuidada pelos pais.
Porém, desde o início de junho que a jovem se começou a recusar a ingerir fluidos e comida, tendo tanto os pais como os médicos concordado em não proceder à alimentação forçada, o que terá levado à sua morte. No entanto, escreve O'Leary que "uma decisão para passar a cuidados paliativos e não forçar alimentação consoante pedido do paciente não é eutanásia" e que a responsabilidade do caso ter sido abordado desta forma recai sobre a Euronews e o australiano news.com.au, que diz terem sido os primeiros meios de comunicação em língua inglesa a reportar a história.
Admitindo a exclusão do procedimento por eutanásia, a hipótese de suicídio assistido, um ato distinto, parece ser mais plausível. Enquanto que na eutanasia os médicos responsáveis agem ativamente na morte do paciente - partindo de um ato de um profissional de saúde, aplicando-se normalmente uma injeção letal - no suicídio assistido os responsáveis tomam uma postura passiva, permitindo ou fornecendo os meios ao requerente para por termo à sua vida.
Nascida na cidade holandesa de Arnhem, a menor tinha afirmado na sua autobiografia, publicada há um ano e premiada várias vezes na Holanda, que “não tinha qualquer significado” continuar viva, porque não tinha superado os problemas psicológicos desde que sofreu os abusos.
Na última etapa da sua vida, tinha sido internada em três instituições de cuidados de menores, apesar de que, disse a sua mãe, deveria ter sido colocada “num centro psiquiátrico, mas a lista de espera na Holanda é grande”.
Os Países Baixos tornaram-se no primeiro país a legalizar a prática da eutanásia em 2001, sendo que, de acordo com a lei holandesa, o procedimento apenas é permitido nos casos de "sofrimento insuportável". Neste país pode-se fazer um pedido a partir dos 12 anos, mas desde essa idade até aos 16 anos é necessária uma autorização parental.
Em Portugal, a eutanásia é ilegal. Motivo de contínua discussão política e junto da sociedade civil, a despenalização da morte medicamente assistida tem sido alvo de vários projetos de lei para torná-la legal. Os projetos mais recentes, propostos pelo PAN, BE, PS e PEV foram chumbados em maio de 2018 na Assembleia da República.
(Notícia corrigida às 13:18 - Subtrai a causa de morte devida à eutanásia e inclui as informações da jornalista Naomi O’Leary)
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