Numa audiência pública realizada na terça-feira, pela Comissão de Meio Ambiente no Senado, Galvão alertou para a necessidade de o Brasil impedir primeiramente a desflorestação na região, antes de combater os incêndios.
O professor e cientista acredita que o corte das árvores mais baixas da floresta começa no final da estação chuvosa, abrindo assim terreno para as queimadas da estação seca.
“O INPE já alertou o Governo há dois meses de que este ano o pico de queimadas, que geralmente é em setembro, ocorreria antes. Eles [grileiros] tomam terras, tiram madeira para fazer o que nós chamamos de corte raso. Porque uma das principais razões [da desflorestação] é a grilagem”, disse Galvão, citado pela agência do Senado brasileiro.
A “grilagem” é, no Brasil, a falsificação de documentos para ilegalmente tomar posse de terras devolutas ou de terceiros.
“Cerca de 25% a 30% da desflorestação na Amazónia tem áreas não destinadas. Então entram, desflorestam, vendem a madeira e vendem a terra para outros”, acrescentou o ex-diretor do INPE.
Ricardo Galvão foi exonerado do seu cargo no instituto no início de agosto, após ter criticado o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que acusou o órgão, responsável por monitorizar a desflorestação, de divulgar dados falsos, e de agir “de má-fé” para prejudicar o seu Governo.
O INPE tornou-se foco de uma grande polémica após ser duramente criticado por Bolsonaro, que disse que o órgão divulgou dados mentirosos sobre o crescimento da taxa de desflorestação da Amazónia, numa reunião com jornalistas estrangeiros em julho.
Após as declarações do chefe de Estado, Galvão respondeu publicamente que o Presidente teve um comportamento desrespeitoso e fez acusações indevidas a personalidades destacadas da ciência brasileira.
O INPE é um instituto público vinculado à pasta da Ciência e Tecnologia, que monitoriza a desflorestação da maior floresta tropical do mundo, operando sistemas de imagens por satélite.
Professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Galvão ressaltou que a Floresta Amazónia é responsável por todo o regime de chuva do Brasil, garantindo chuvas até para a vizinha Argentina.
Dados do INPE indicam que de janeiro a agosto deste ano, a área desflorestada naquela que é a maior foresta tropical do mundo foi quase o dobro do período homólogo de 2018.
“A previsão de estudos de cientistas de grande nível, ambientalistas, é de que se nós desflorestarmos de 25% a 40% da Amazónia total, não só da brasileira, a tendência para que a área se torne uma savana é irreversível. A área reflorestada na Amazónia não passa de 15%, o resto é pastagem”, reforçou ainda Galvão no Senado.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, possuindo a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios pertencentes ao Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).
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