Um ex-vice-diretor do FBI considerou Donald Trump um ativo russo, mesmo que não o seja no sentido tradicional de um agente ativo, avança o The Guardian.

Andrew McCabe, que foi demitido pelo norte-americano em 2018, deu a sua opinião durante uma participação no podcast One Decision, apresentado por Richard Dearlove, ex-chefe do M16, o serviço de inteligência britânico.

“Não sei se eu o caracterizaria como [um] ativo, recrutado ou agente, da forma como as pessoas na comunidade de inteligência pensam nesses termos. Mas acho que Donald Trump nos deu muitas razões para questionar a sua abordagem ao problema da Rússia, e acho que a sua forma de interagir com Vladimir Putin, seja por telefonemas, reuniões presenciais ou até coisas que ele disse em público sobre Putin, levanta questões significativas”, referiu.

A conversa, onde o próprio ex-funcionário do ex-presidente dos EUA questionou a atitude de Trump em não apoiar a Ucrânia e a NATO diante da agressão russa, foi gravada antes do debate de terça-feira, que pôs frente-a-frente o republicano e a democrata Kamala Harris, ambos na corrida às presidenciais de novembro.

Sobre a relação com Vladimir Putin, que Trump fez questão de salientar no histórico confronto em Filadélfia, McCabe disse: “Temos de ter sérias perguntas sobre porque é que Donald Trump tem este tipo de admiração bajuladora por Vladimir Putin de uma forma que nenhum outro presidente americano, republicano ou democrata, teve", salientou.

“Pode ser apenas um mal-entendido (...). Isso é sempre uma possibilidade (...). Eu acho que o outro lado do espectro é que há algum tipo de relacionamento, ou o desejo por um relacionamento, de algum tipo, seja ele económico ou orientado para os negócios", acrescentou Andrew. "Nenhuma destas possibilidades foi provada, mas enquanto oficial de inteligência são coisas que penso”.

Andrew McCabe demonstra-se preocupado com um eventual segundo mandato de Trump, sobretudo, devido à possibilidade de a Rússia passar a interferir nos assuntos dos EUA.

“O desejo deles de causar estragos ou danos no nosso sistema político vem de há anos", disse. “O interesse deles é, simplesmente, semear o caos, a divisão e a polarização. Se eles o conseguirem fazer, é uma vitória. Se eles conseguirem realmente prejudicar um candidato de quem não gostam, ou ajudar um de quem gostam, é uma vitória ainda maior”, refletiu.

McCabe fez parte da liderança do FBI, chegando mesmo a ser diretor interino, durante as investigações sobre a influência russa nas eleições de 2016 e as ligações entre Trump e Moscovo.

Em março de 2018, Donald Trump demitiu Andrew, dois dias antes do mesmo se aposentar. Depois, o ex-FBI foi alvo de uma investigação criminal, por, alegadamente, mentir sobre a divulgação de informações privadas aos meios de comunicação, que foi dada como encerrada em 2020.

Já em outubro de 2021, foi o próprio a mover um processo contra o departamento de Justiça do país.