Konstantin Yefremov contou, numa entrevista à BBC, algumas das atrocidades que testemunhou por parte das tropas russas, descrevendo de forma gráfica e crua acontecimentos de restrição de comida, métodos de tortura e ameaças de violação. E, testemunha da brutalidade dos militares russos, fala do seu medo e da vontade de desertar.

O ex-militar russo dá o exemplo de um interrogatório onde um Coronel russo disparou contra o braço e a perna direita de um prisioneiro ucraniano, atingindo um osso debaixo do joelho. "Os interrogatórios, esta tortura, continuaram por cerca de uma semana. Todos os dias, à noite, por vezes duas vezes ao dia", partilha o russo. Estes exemplos de tortura foram testemunhados pelo ex-militar ao longo dos meses de ocupação do sul da Ucrânia.

No início de fevereiro de 2022 o ex-militar e a sua unidade foram transferidos para a Crimeia, a península ucraniana anexada pela Rússia em 2014, para participar em "exercícios militares". Segundo Konstantin Yefremov, nesta altura não imaginavam o conflito que haveria. "Creio que mesmo os oficiais seniores não sabiam", contou à BBC.

Konstantin Yefremov faz uma verdadeira cronologia da guerra, lembrando o momento em que as tropas russas marcaram os seus uniformes, equipamentos e veículos militares com a letra "Z", que rapidamente se tornou símbolo do que foi chamado de "operação militar especial" pelo Kremlin.

A certo ponto, decidiu desistir. "Deixei a minha arma, apanhei um táxi e fui-me embora. Eu queria regressar à minha base na Chechénia e apresentar oficialmente a minha demissão. Aí os meus companheiros telefonaram-me com um aviso:  um coronel tinha prometido meter-me 10 anos na prisão por deserção e que já tinha alertado a polícia". Com medo de ir para a prisão, Konstantin Yefremov voltou a juntar-se à sua unidade.

A comandar temporariamente um pelotão de fuzileiros, recebeu ordens, três dias depois da invasão, para ir à cidade de Melitopol, onde assistiu às atrocidades cometidas contra o povo ucraniano. "Eu nem sequer tenho o direito moral de pedir pelo perdão dos ucranianos. Eu não me consigo perdoar a mim mesmo, então não posso esperar que eles me perdoem", diz Konstantin Yefremov.

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Ana Maria Pimentel.