Maria de Lurdes Rodrigues falava hoje na apresentação de um estudo que coordenou sobre a retenção dos alunos no 1.º ciclo do ensino básico, que aponta como primeira causa para a repetição no 2.º ano de escolaridade o défice de competências de leitura dos alunos.
Este projeto de investigação da associação EPIS (Empresário pela Inclusão Social) denominado “Aprender a ler e escrever em Portugal” tem como principal objetivo aprofundar o conhecimento sobre o problema do insucesso escolar nos primeiros anos de escolaridade, e foi também realizado por Isabel Alçada, João Mata e Teresa Calçada.
Em que medida as dificuldades de aprendizagem da leitura explicam o insucesso escolar nos primeiros anos de escolaridade, que fatores explicam, e em que medida, as dificuldades de aprendizagem da leitura, são questões às quais o estudo procurou responder.
A análise indica que as crianças reprovam no segundo ano por não lerem bem, por não terem atingido os objetivos estabelecidos no programa no que respeita à leitura e à escrita, seja no domínio técnico de identificação e descodificação dos sinais, seja na compreensão da leitura ou do domínio do vocabulário.
As dificuldades com a aprendizagem da leitura são consideradas pelos professores como “normais”, argumentando que as crianças são todas diferentes e a grande maioria dos professores das turmas visitadas considera que não é possível eliminar totalmente o insucesso no primeiro ciclo.
Perante situações concretas em que os alunos não atingem os objetivos estabelecidos no programa para a leitura, os professores consideram que têm apenas uma de duas alternativas: a repetência ou a passagem automática.
Para os professores entrevistados a repetência é a alternativa correta, a única alternativa. No seu leque de opções não são encaradas outras alternativas, não são referidas outras soluções.
A observação do fenómeno da repetência precoce foi feita em 127 escolas tendo sido entrevistados 127 diretores escolares, 245 professores com turmas de 1.º e 2.º anos de escolaridades.
Segundo o estudo 87% dos professores vê vantagens em chumbar alunos.
Maria de Lurdes Rodrigues defende que há soluções no sistema que podem ultrapassar este constrangimento.
“O problema que se coloca é que, como se no espaço de debate público apenas existisse duas alternativas, ou se reprova ou se passa sem saber, mas a prática noutros países mostra que há outras alternativas”, disse.
O estudo, explicou, foi feito a partir de uma base de informação do Ministério da Educação de 2013/2014 e o trabalho de campo foi desenvolvido até ao final de 2016. No terreno, a equipa encontrou, na visita a escolas com uma expressão mais dramática em termos de repetência, que o envolvimento de todos permitiu inverter a situação.
“Encontrámos em algumas das escolas que a repetência já não existia. Não foi preciso esperar dez anos para a extinguir. Os diretores de agrupamento decidiram chamar a si o problema”, disse adiantando que “não existe um modelo único de abordagem” sendo necessário “trazer o problema para o foco de atenção”.
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