O porta-voz da empresa espanhola ACCIONA, a dona da fábrica, justificou à Lusa "o encerramento definitivo" da MFS - Moura Fábrica Solar, no distrito de Beja, com o facto de a sua viabilidade económica ser "impossível, num ambiente de mercado competitivo dominado por fabricantes chineses".

Contactado hoje pela Lusa, o presidente da Câmara de Moura, Álvaro Azedo, afirmou que o fecho da fábrica, "o maior empregador privado do concelho", é "um drama", porque "vai deixar 105 pessoas no desemprego".

Segundo o mesmo porta-voz, a decisão da ACCIONA de fechar a MFS "foi comunicada verbalmente aos trabalhadores" na passada segunda-feira e "também às autoridades nacionais e locais".

"A partir de agora", disse o porta-voz, "haverá um período de conversações com os representantes sindicais dos trabalhadores" para "definir as condições concretas" do despedimento e das indemnizações.

Os trabalhadores vão ser notificados formalmente por carta da decisão da ACCIONA e, após o período de negociações com os representantes sindicais, irão receber os pré-avisos de despedimento e as cartas de indemnização e só depois a fábrica irá fechar.

"São 105 postos de trabalho que se vão perder", o que "para um concelho do interior como o de Moura, que tem problemas em termos de emprego, é, de facto, um rombo muito grande", lamentou o presidente da câmara municipal, o socialista Álvaro Azedo, mostrando-se "muito consternado" com a situação, que considerou "dolorosa e devastadora".

Segundo o autarca, entre os 105 trabalhadores da fábrica, que vão ficar desempregados, "há muitos jovens e casais".

"Vamos ter situações em que numa casa de família marido e mulher vão ficar sem emprego, o que é devastador", sublinhou.

O porta-voz da empresa disse à Lusa que a ACCIONA "cumpriu plenamente todos os seus compromissos com as autoridades nacionais e locais, mantendo a atividade da fábrica durante 10 anos, com uma média de mais de 100 empregados" e através de dois parceiros tecnológicos, um primeiro espanhol e um segundo chinês, que "a geriram consecutivamente".

No entanto, o segundo parceiro, chinês, que geria a fábrica, "anunciou em 10 de setembro de 2018 - sete dias depois de a União Europeia ter decidido eliminar as tarifas sobre a importação de painéis da China - que iria concluir definitivamente a sua atividade em Moura e transferir a sua produção para fábricas na Ásia", explicou o porta-voz.

"Ao longo de 2018", a ACCIONA tentou negociar a entrada de um terceiro parceiro tecnológico na gestão da MFS, mas "sem qualquer resultado, dada a evolução do setor à escala global", e, por isso, "não houve outra opção senão [a de] fechar a fábrica", que parou de produzir painéis solares no passado mês de setembro, frisou.

"A ACCIONA aprecia o clima de colaboração alcançado nos últimos anos com as autoridades nacionais e locais e o empenho demonstrado por todos os colaboradores da fábrica e lamenta que o contexto global fotovoltaico - praticamente já não existem fábricas de painéis fotovoltaicos na Europa - nos obrigue a tomar esta decisão, que não era esperada quando iniciámos este projeto em 2008", disse o porta-voz.

A criação da MFS, que implicou um investimento de 10 milhões de euros e começou a produzir em 2008, foi uma das contrapartidas do projeto de construção da Central Solar Fotovoltaica de Amareleja, no concelho de Moura.

Após ter comprado a empresa que tinha sido criada pela Câmara de Moura para construir e gerir a central, a ACCIONA construiu a MFS e, no âmbito de um acordo com o município, comprometeu-se a mantê-la a funcionar durante 10 anos, ou seja, até 2018, e com mais de 100 trabalhadores.

Nos 10 anos de atividade, a MFS parou de produzir durante vários períodos, mas manteve sempre a relação laboral com os trabalhadores.

Álvaro Azedo disse à Lusa que a Câmara de Moura "percebia que a continuidade" da MFS "após 2018 levantava muitas dúvidas" e, por isso, fez "várias diligências", sobretudo junto do Governo, "no sentido de manter a fábrica a laborar e os 105 postos de trabalho", o que não foi possível.

[Notícia atualizada às 17:20]