“Fake News”. O tema não é novo, mas permanece incontornável. Cunhado por Donald Trump, o termo é “arma” de arremesso num momento em que o Jornalismo vive uma crise de credibilidade. Na GEN Summit 2018, cimeira de media que se realizou em Lisboa, convidaram-se professores, jornalistas, programadores e empreendedores para um debate que se considera urgente nos dias que correm.
“Temos uma emergência em mãos, e estimular a procura por informação de qualidade é fundamental”, considerou Dan Gilmore, professor da Arizona State University, que urgiu mesmo a assistência, composta por pessoas ligadas ao universo dos media, a deixarem de utilizar o termo “Fake News”. “Informações falsas, desinformação”… há outras formas de explicar o que acontece nos media sem usar uma expressão que se transformou, nas suas palavras, numa “arma”.
E Stephen Adler, chefe de redação da Reuters, que não partilhou o painel com Dan, mas cuja reflexão recaiu sobre o mesmo tema, explica como: Influenciados por Trump nesta crise de credibilidade, “há líderes a quem interessa dizer que os media não são de confiança. (…) ‘Fake News’ é um termo utilizado pelos regimes autoritários para criminalizar o jornalismo”, com vários países a estudar ou a aprovar leis que punem a divulgação de informações falsas — um risco sério para a liberdade de expressão, já que estes governos podem estar a aproveitar o contexto para aprovar medidas repressivas que servem sobretudo para reforçar o seu poder.
Para Aaron Sharockman, diretor executivo do Politifact, estamos mesmo perante um "problema de saúde pública” que exige o envolvimento dos cidadãos, das empresas e dos governos. Para o empreendedor “somos todos parte do problema, temos de desacelerar e questionar. E todos devemos ser parte da solução. Se o nosso tio maluco decide partilhar uma notícia falsa através do seu Facebook, devemos ter disponibilidade para iniciar uma conversa com ele em vez de olhar para o lado e dizer ‘ah, lá está o tio maluco a fazer das suas’”.
Na mesma linha, Dan Gilmore defendeu que “o princípio básico é o pensamento crítico e cada país deve questionar-se sobre como está a promover este pensamento crítico no seu sistema educativo”. Além disso, defendeu, os jornalistas devem endereçar esta crise de confiança explicando quem são e o que fazem, “convidando as pessoas a ser parte do processo”.
Aaron concordou e deu como exemplo a utilização abusiva de fontes anónimas na produção de informação. Torna-se cada vez mais necessário, defendeu, explicar a quem consome informação como os factos foram obtidos, o que os consubstancia e justificar decisões como a de manter uma fonte anónima.
Menos confiante de que a solução para esta crise de confiança, este “tsunami” como o caracterizou, esteja somente na estimulação do pensamento crítico ou mesmo numa mudança de atuação por parte dos media, Aroon Purie, editor-chefe do India Today, defendeu que antes de mais “devemos questionar se existe um apetite real por informação de qualidade” e, a par, responsabilizar os gigantes da tecnologia: “Eles dizem que são plataformas, mas são publishers e devem ser responsáveis pelo conteúdo que difundem”, disse.
O debate não é novo. Facebook e Google são plataformas ou publishers, devendo, no segundo caso, guiar-se pelas mesmas regras que um meio de comunicação social? Mas Dan Gilmor alertou para o risco de uma linha de pensamento desta natureza: “Prefiro que a decisão sobre o que é ou não falso esteja do nosso lado [jornalistas] e do lado dos cidadãos, e não nas mãos destas plataformas. Acho que seria catastrófico se fossem essas empresas a decidir o que é verdadeiro e o que é falso. O que é necessário é que disponibilizem ferramentas que nos permitam tomar essa decisão”, defendeu.
Apesar de considerar que os media “passaram muito tempo a cavar o buraco” onde agora se encontram, Dan mostrou-se otimista quando ao caminho que há para fazer: “Estou otimista porque as pessoas perceberam a emergência do problema e esse é o primeiro passo”, disse.
Na mesma linha, Stephen disse acreditar que efetivamente “existe um apetite real por informação de qualidade, e isso é algo que teremos sempre a nosso favor”. O grande desafio está em traçar a linha entre aqueles que são dignos de confiança e os que não, e em encontrar formas de os diferenciar no scroll despreocupado do leitor.
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