Pelo palco, montado em frente ao Palácio de Justiça, desfilaram vários grupos nacionais e internacionais como Banda Bassoti, Ana Tijoux, KY-Mani Marley e a colombiana Totó la Momposina.

O concerto que marcou o lançamento do partido político das forças rebeldes das FARC – que mantém a sigla – demorou em atrair gente e não chegou a encher a praça central da capital, preparada para a ocasião com grandes altifalantes e ecrãs, característicos de qualquer festival.

Noutros monitores secundários foram projetadas “cápsulas históricas” ou vídeos com declarações de dirigentes das FARC, incluindo do seu atual líder Rodrigo Londoño, conhecido como “Timochenko”.

A audiência, composta maioritariamente por delegados das FARC no congresso, que começou no passado domingo em que se converteram num partido político, levantavam rosas vermelhas, flor escolhida como novo logótipo da formação política.

Por volta da 01:00 (hora em Lisboa) “Timochenko” subiu ao palco e proferiu o seu primeiro discurso na legalidade diante de uma audiência que quase não ocupava metade da praça.

Num discurso pouco inovador, durante o qual reiterou muitas das propostas que burilou durante os últimos meses, voltou a pedir um governo de transição composto por diferentes forças para a liderança do país após as eleições do próximo ano.

Além disso, afirmou que as novas FARC querem construir “um país diferente”, com “a violência definitivamente desaparecida do cenário da política”, onde ninguém seja perseguido, assassinado ou forçado a desaparecer por “pensar diferente”.

“Um país onde ninguém seja obrigado a pegar nas armas para defender a sua vida, onde a resposta ao protesto e à inconformidade social não seja o tratamento brutal da ESMAD”, afirmou “Timochenko”, referindo-se a um esquadrão antimotim da polícia.

Na Colômbia que deseja construir “Timochenko” quer que vingue “a tolerância e o respeito pela diferença”, porque “o diálogo e a concertação serão a forma de solucionar os problemas”.

“Não queremos nem mais uma única gota de sangue por razões políticas, que nenhuma mãe volte a derramar lágrimas por um filho ou filha violentados. Por isso não vacilamos em estender as nossas mãos num sinal de perdão e de reconciliação. Queremos uma Colômbia sem ódios. Viemos professar a paz e o amor fraternal de compatriotas”, concluiu “Timochenko”.

De acordo com os termos do acordo de paz assinado no ano passado, os antigos combatentes têm dez lugares garantidos no Congresso e acesso ao mesmo tipo de financiamento que os outros 13 partidos políticos da Colômbia, além de mais meio milhão de dólares para criar um instituto de pesquisa para desenvolverem a sua ideologia política.

O novo partido político FARC já sinalizou que vai manter as suas raízes marxistas e focar-se em buscar eleitorado junto dos agricultores mais pobres, trabalhadores e classe média, mas enfrenta a oposição de muitos que o identificam com um movimento de guerrilha responsável por raptos e terrorismo.

Uma sondagem divulgada em agosto concluiu que menos de 10% dos eleitores colombianos têm total confiança nos rebeldes enquanto partido político, com uma larga maioria a garantir que nunca votaria em antigos guerrilheiros no Congresso.