A faixa colocada numa das entradas da praceta, naquela por onde entravam até há uma semana carros de moradores, lojistas, clientes e até pais de crianças que frequentam a escola vizinha, refere: “Devido ao risco de colapso, a praceta será encerrada pelo período de 24 meses. Viaturas sujeitas a reboque”.
No mesmo local – e exatamente ao lado de um poste onde está um sinal de trânsito que proíbe a passagem “exceto a veículos de emergência”, como se lê numa placa que por cima diz “Propriedade privada” – foi colocada uma corrente com cadeado que impede a passagem dos veículos a um espaço onde estão localizadas cerca de uma dezena de lojas e três torres de apartamentos, cada uma com nove andares, num total de mais de uma centena de apartamentos.
“Mas e se for preciso entrar aqui uma ambulância como vai ser? Se as obras têm de ser feitas, acho bem que se tomem medidas, mas assim? Sem avisar e sem explicar?”, questiona Marisa Oliveira que há cinco anos gere o salão de cabeleireiro Rainhas e Princesas.
À Lusa, a cabeleireira fez a cronologia de uma situação que não é inédita, uma vez que já se verificou há cerca de quatro anos, embora então, em vez de um cadeado, tenham sido colocados vasos a impedir a passagem dos carros.
“E nós, porque a união faz a força, tirámos os vasos porque nos revoltámos quando um morador caiu e a ambulância não conseguiu entrar, e quando uma senhora daquela torre [a apontar para o bloco mais próximo do hotel Holiday Inn] morreu. E como o carro funerário não entrava, a maca fez o trajeto pela praça, um momento muito duro para a família. Fecharam a praça e um ano e meio depois estava tudo igual, obras nem vê-las”, contou.
Estes episódios são conhecidos de Mimosa Querido, moradora há mais de 20 anos na Praceta Alferes Pereira.
Sem saber especificar de quem é a responsabilidade pela praça porque, diz, “o que respondem sempre é que é de gestão privada mas de acesso público”, a moradora criticou o condomínio por este “deixar tudo num caos e nunca dar explicações de nada”.
“Até já os metemos em tribunal por causa das contas. Os moradores já recolheram três orçamentos para obras, propusemos, não fizeram nada, mas agora isto: metem um cadeado e ninguém entra nem sai”, criticou.
Mimosa Querido contou à Lusa que a primeira vez que a praça esteve fechada foi há 19 anos quando “de facto foi arranjada”. Depois “o circo repetiu-se, mas nunca com obras a sério, só avisos e ameaças colocados e tirados de um dia para o outro”.
É desta imprevisibilidade que se queixa também Cláudia Marques que gere um atelier de costura localizado numa praça onde se somam cafés, uma lavandaria self-service, um gabinete de contabilidade, entre outros negócios.
“Fomos todos surpreendidos. Liguei para a minha senhoria e até ela estava sem saber nada. Além de um ‘email’ [do condomínio] a dizer que iam fechar a praça, não sabia mais nada. Isto antes era muito movimentado e agora é isto que se vê, deserto. Cortaram a corrente sanguínea aqui”, referiu à Lusa.
Para Cláudia Marques, que está na Alferes Pereira há três anos, se a proibição de acesso se mantiver o destino das lojas é claro: “Diz na faixa 24 meses, certo? Ninguém aguenta um ano, quanto mais dois”.
Também Paula Brás, da pastelaria Doce Real, se diz “surpreendida” e “muito preocupada” com o fecho da praça.
“Já notamos falta de clientela”, lamenta, enquanto explica à Lusa que “o problema está nas garagens”, informação confirmada por Constantino Nascimento, morador na praceta há 35 anos.
“Isto está um perigo. Há muitas infiltrações. As obras são necessárias. Por acaso eu tenho sorte com o meu lugar de garagem, mas tenho vizinhos que, quando chove muito, só chegam ao carro de galochas, às vezes quase só de barco”, descreveu.
A agência Lusa procurou obter informações junto das empresas gestoras de condomínio das várias infraestruturas da praceta, nomeadamente junto da Boagest, apontada pelos moradores como responsável pela maioria das frações, assim como junto da Câmara de Gaia, mas sem sucesso até ao momento.
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