Francisco Oliveira falou à agência Lusa a propósito do Dia Distrital do Bombeiro, que se assinala no domingo, em Valpaços, e elencou as dificuldades sentidas pelos voluntários, mas destacou também a “boa articulação” que se verificou este verão no combate aos incêndios na região.
Pelo distrito de Vila Real espalham-se 26 corporações, com 1.250 bombeiros e 487 viaturas.
“Nós estamos cansados de mendigar. Os bombeiros têm que andar a mendigar todos os dias, a pedir às pessoas e às instituições para substituir o Estado nas suas funções”, afirmou o responsável.
O presidente da federação distrital elencou as dificuldades de recrutamento numa região de onde os jovens têm de sair para procurar emprego, a falta de equipamento, o envelhecimento do parque automóvel e os constrangimentos para a reposição de viaturas, criticando "o inconcebível” apoio dado pelo Estado, que obriga os bombeiros a “andar a pedir para arranjar uns tostões” para substituir os veículos.
Francisco Oliveira disse ainda que o subsídio concedido para o combustível “é já inferior ao preço do gasóleo”.
“Nós, neste momento, já estamos a pagar para apagar fogos”, salientou.
Outro problema destacado pelo dirigente prende-se com “o atraso no pagamento pelo transporte de doentes” que, segundo disse, em alguns casos se arrasta "desde março".
“A federação está preocupada com o atraso na emissão dos termos de responsabilidade do transporte de doentes não urgentes e respetivo pagamento da responsabilidade do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD)”, explicou.
Francisco Oliveira disse que a “situação está a tornar-se insustentável em alguns corpos de bombeiros, devido aos custos que têm vindo a suportar, originando dificuldades financeiras que estão a pôr em causa o normal funcionamento das associações humanitárias”.
O conselho de administração do CHTMAD disse à Lusa que “já estão a ser emitidas as credenciais de transporte de junho, embora a algumas entidades (as mais pequenas) já tenham sido emitidas as de julho e agosto”.
“Relativamente aos pagamentos, todas as faturas rececionadas até junho, inclusive, estão pagas. As faturas rececionadas entre julho e agosto estão em processo de conferência e serão pagas neste mês de outubro”, acrescentou a fonte.
O conselho de administração garantiu que os serviços estão “fortemente empenhados na recuperação do atraso verificado”.
“Temos despesas de fogos florestais desde maio e ainda não recebemos um cêntimo e continuamos a desembolsar. Há seis anos que não é revisto o preço do quilómetro e é surreal termos que pagar 300 euros para utilizarmos os nossos rádios SIRESP”, salientou ainda Francisco Oliveira.
“Há um sem fim de situações que afetam os bombeiros”, concluiu, referindo que vai aproveitar o Dia Distrital do Bombeiro para chamar a atenção para estas questões.
Um balanço provisório aponta para 691 incêndios ocorridos nesta época, no distrito de Vila Real, enquanto que, em 2017, foram contabilizados 1.335 fogos.
“Deixamos uma palavra de agradecimento e reconhecimento aos bombeiros do nosso distrito pela prontidão, empenhamento e capacidade de resposta. Não houve grandes incêndios, mas os que existiram foram atacados de forma eficaz”, salientou.
Francisco Oliveira destacou também a “boa articulação que existiu nos teatros de operações com as diversas forças empenhadas no combate”.
A Lusa tentou obter uma reação do Ministério da Administração Interna, mas tal não foi possível até ao momento.
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