Às 12:00, os 350 pavilhões da feira, o maior número de sempre, estavam já a postos para receber os primeiros visitantes, o que se verificou acima das expectativas, com muitas pessoas a percorrerem a alameda do Parque Eduardo VII e a encherem as esplanadas dos vários espaços de restauração.
Muitos estrangeiros, de chapéu, calções e camisolas de alças, caminhavam entre pavilhões, mais para ver do que para comprar, para passear aproveitando o sol e o bom tempo e para se sentarem à sombra a comer gelados ou a beber algo refrescante.
Já os portugueses, entravam nos ‘stands’, vasculhavam livros e enchiam sacos, como foi o caso de Vasco Jardim e da mulher, que acumulavam sacos de diferentes editoras nas mãos e já tinham percorrido quase metade da feira, uma hora após ter aberto.
“Hoje abriu ao meio-dia, nós tínhamos a lista já previamente feita, vimos que os ‘stands’ estavam mais ou menos de seguida e foi sempre por aí abaixo a gastar dinheiro”, contou à Lusa.
Cliente fiel da Feira do Livro de Lisboa e leitor desde a infância por influência dos pais, Vasco Jardim admite contudo que esta é a primeira vez que vem mesmo à abertura, pois normalmente aproveita os fins de semana ou dias de folga.
Apesar de grande comprador de livros, é visitante de um dia só da feira, em que aproveita para “almoçar, beber um copinho de água” e despachar toda a lista.
António Augusto é outro tipo de visitante assíduo da Feira do Livro de Lisboa, que não falha um ano e, em cada ano, visita-a “quase todos os dias”, sempre à procura de promoções ou livros que já não encontra disponíveis nas livrarias, normalmente de política ou História.
Mas tal como Vasco Jardim, foi a primeira vez que compareceu logo na abertura, o que explica com o facto de não poder ir nos próximos dias, até ao fim de semana.
Lara Santos é uma jovem adolescente, que se passeava com um grupo de amigas, carregando uma mala de viagem com rodinhas, que planeava encher de livros.
A sua visita à feira prende-se sobretudo com a procura de livros de autores portugueses, que são mais caros do que os livros em inglês, mas “merecem amor também”, pelo que a feira é uma boa oportunidade para os comprar mais baratos.
Amante de livros de fantasia, mas leitora “diversificada”, afirma que quer “apoiar a economia portuguesa”, e é na feira que encontra os maiores descontos para livros em português, mas também procura primeiras edições a serem lançadas neste período e “novas coisas” que encontra ali.
A grande afluência para as primeiras horas de feira foi bastante notada pelas editoras, como é o caso do grupo editorial Leya, que ocupa um dos maiores, se não o maior, espaço da feira, onde antes das 14:00 já se formavam filas nas caixas de pagamento para comprar livros.
“Comparando com o ano passado, eu acho [que há mais gente], parece-me mais e, portanto, acho que é um bom indicador", disse Maria Garcia, responsável do grupo, acrescentando, por isso, “ter boas expectativas” para este ano.
“O ano passado foi o melhor ano de sempre em termos gerais de feira do livro, e de Leya também, ou seja, nós fazemos há mais de 10 anos a feira do livro e o ano passado foi assim um recorde de vendas, o que nos deixou muito satisfeitos e que nos deixa uma expectativa do que irá acontecer este ano também”, afirmou.
Por isso mesmo, apesar de ser um dos grupos editoriais com mais pavilhões, a Leya gostaria de ter espaço para crescer mais, o que não é possível, porque este ano a Feira do Livro de Lisboa atingiu o seu limite máximo.
“Já no ano passado queríamos ter tido direito a mais, pelo menos mais dois pavilhões, mas visto que tem havido [muitos] pedidos de participantes, até mais pequeninos, pequenas editoras, além de outros grandes grupos editoriais, dá-me ideia que não foi possível aumentar, mas se tivesse sido possível, sim, teríamos aumentado também este ano”, acrescentou.
Uma editora que teve a possibilidade de crescer foi o Clube do Autor, que ganhou mais um pavilhão, para um total de cinco, para dar resposta à crescente procura que este grupo tem tido, sobretudo por parte do segmento jovem adulto e infantojuvenil, contou Rita Balsemão, da editora.
O fenómeno de aumento de procura, a responsável explica-o com o período da pandemia e o papel que as redes sociais tiveram nessa altura, mas também com o facto de, no ano passado, terem tido a “ajuda” de “‘influencers' e páginas de Instagram”, tendo o Clube do Autor tomado também a iniciativa de participar nas redes sociais.
Este ano, o grupo editorial incluiu uma secção inédita, com livros de “top de vendas”, pelo que espera que haja “muito mais procura”, pelo menos por jovens adultos.
Uma das novidades da feira é a presença pela primeira vez da editora portuense Exclamação, que decidiu expandir-se para Lisboa, fruto de estarem “cada vez mais a crescer” e de as somas de edições na feira do Porto estarem a ser “muito bem-sucedidas”, explicou a responsável Márcia Gonçalves.
“Então achámos que fazia todo o sentido vir à Feira de Lisboa, que envolve outra logística, mas como temos tido um crescimento que se justifica, fazia todo o sentido para nós estar presente na Feira de Lisboa”, salientou.
Na opinião de Márcia Gonçalves, este “crescimento gradual” deve-se a uma aposta nos padrões de qualidade na escolha das obras a incluir no catálogo, mas também à expansão do leque de autores e de géneros, com “um grande catálogo de livros de poesia”, também romances, livros de contos e livros infantojuvenis, tendo “inclusive um livro infantojuvenil que está traduzido em língua mirandesa”.
Outro pavilhão em estreia na feira é ainda novidade pela língua e nacionalidade - a espanhola M. Moleiro Editor, a única empresa estrangeira a participar na Feira do Livro de Lisboa.
A M. Moleiro Editor dedica-se a “procurar os grandes manuscritos que marcaram a História, manuscritos do Renascimento e manuscritos da Idade Média, todos os que tenham uma importância histórica relevante e uma vertente artística”, revelou o editor Anton Jiménez.
“O motivo por que estamos aqui é porque contribuímos para pôr o foco sobre a História da cartografia portuguesa, distintos atlas feitos por cartógrafos portugueses”, explicou, acrescentando que a editora faz “reproduções fidedignas dos grandes manuscritos, todos certificados em notário e limitados a um número de exemplares”.
O pavilhão das Edições Avante!, que ao longo dos anos se tem situado ao lado da Sociedade Bíblica, viu de novo a editora de publicações religiosas passar para o lado oposto e ganhou como vizinho do lado o ‘stand’ da Polícia de Segurança Pública.
Ana Leiria (texto), Miguel A. Lopes (fotos), da agência Lusa
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