Durante uma hora e meia, a comitiva das jornadas parlamentares do BE percorreu a antiga prisão do Estado Novo com um guia ilustre: Fernando Rosas, fundador do partido, que em 1972 foi um dos presos políticos a estar cerca de um ano na Fortaleza de Peniche.
"Isto aqui era uma sala de convívio. Ali era o refeitório. E, depois, havia um corredor de celas individuais", foi explicando o historiador a deputados bloquistas e jornalistas, contando com detalhe como se vivia naquela prisão da época da ditadura.
Fernando Rosas foi, aliás, um dos membros escolhidos pelo Governo para a Comissão de Instalação de Conteúdos e da Apresentação Museológica do futuro Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, que vai nascer na Fortaleza de Peniche, depois do recuo na decisão de a concessionar para construir um hotel.
Apesar da Câmara de Peniche ter anunciado em novembro passado que a Fortaleza iria encerrar aos visitantes a partir desse mês devido às obras para edificação do museu, a verdade é que os sinais visíveis são apenas de maior destruição do que aquela que se podia constatar em abril de 2017, quando o Governo aprovou, num Conselho de Ministros que se realizou naquele mesmo local, um plano de recuperação da antiga prisão.
Questionado pelos jornalistas se acha que o futuro museu poderá estar pronto em abril do próximo ano, Fernando Rosas disse apenas: "vamos ver. Vai haver um primeiro concurso para as obras exteriores - tirar o pó à fachada, limpar, pintar - e depois vai haver uma segunda tranche para as obras do interior".
Pedro Filipe Soares, líder da bancada parlamentar, falou no final dos enormes desafios que há para construir este museu, cujas instalações estão muito degradadas graças ao "desinvestimento do passado", referindo que a segunda tranche para construção e implementação do museu "não tem ainda tempo previsto".
"Chamamos a atenção para essa necessidade: investir na cultura é investir no património que existe de memória de país e é garantir que nós temos finalmente aquilo que foi negado tanto tempo que é a preservação desta memória", apelou.
Durante a visita, Fernando Rosas - ou não fosse ele um historiador - contou pormenores que manteve atentos os presentes, apesar do frio que se fazia sentir e da chuva que teimava em cair.
"Aqui era a casa de banho. Era preciso pedir autorização ao guarda para vir à casa de banho, no período em que estavam as celas abertas. Quando as celas estavam fechadas - que era a maior parte do tempo - havia um balde para fazer as necessidades", relatou.
O fundador do BE esteve preso em Peniche entre fevereiro e dezembro de 1972, no período de Marcelismo, uma fase mais humanizada daquela prisão, depois da "luta dos presos, das famílias e da amnistia internacional".
Cerca de dez anos antes, num período em que "era um regime para quebrar o preso", o histórico comunista Álvaro Cunhal fugiu de Peniche, juntamente com outros nove presos políticos.
Hoje, Fernando Rosas fez quase uma recriação dessa fuga, percorrendo o caminho que os dez fugitivos fizeram até ao exterior da cadeia e contando como foi possível a execução do plano.
O fundador do BE - que passou na Fortaleza de Peniche "muitas horas a trabalhar" - falou da conquista de alguns direitos fundamentais por parte dos presos, como a entrada de livros e contou que até os jornais eram censurados uma segunda vez antes de serem lidos.
"Nos últimos anos do regime, melhorou alguma coisa. No piso de baixo conseguimos obter uma mesa de ping-pong, uma grande vitória", lembrou.
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