O horário foi adiantado para as 16:00, a fim de evitar ajuntamentos aos portões, num contexto em que as autoridades sanitárias obrigaram a uma lotação máxima de 16.563 pessoas e plateias sentadas nos espetáculos nos 30 hectares do certame político-cultural do PCP, devido à pandemia de covid-19.

“Este ano, decidimos trazer as netas, pela primeira vez, uma com 17 e uma com 13 anos. Vamos vivê-la [a festa] com mais intensidade do que em anos anteriores por mil e uma razões”, disse à Lusa Alice Caldas, 62 anos, ladeada pelo marido, José, 68 anos, ambos auxiliares hospitalares reformados e costumeiros na festa.

Com as netas mais afastadas, evitando a câmara de televisão, José Caldas mostrou-se confiante de que tudo vai correr bem até domingo.

“Nós somos muito unidos e organizados. Vamos cumprir as recomendações da Direção-Geral da Saúde. Há menos gente, mas, apesar de tudo, não é razão para não fazermos uma festa em condições, espetacular”, garantiu.

A estudante de engenharia geoespacial de 21 anos Beatriz Peres também foi das primeiras a entrar para a festa, a qual costuma ajudar a montar nos tempos livres.

“Se não fosse a ajuda de voluntários como nós, nada disto aconteceria. É muito bonito o espírito de entreajuda. [Festa] menos animada, não. Vai ser diferente. Toda a situação do quotidiano, lá fora, está a ser diferente. Se as pessoas se conseguiram habituar, com certeza que se habituarão cá. Vai haver concertos, festa do livro, festa do disco, isso é bastante importante”, disse.

Alcides Santos, gestor de sistemas de informação de 53 anos, confessou ser “militante sem quotas em dia”.

“Isto é como na engenharia. Quando há um problema para construir uma estrada, pode haver pântanos, o que seja que o possa tornar perigoso, arriscado, mas a capacidade humana tem de passar por cima disso. Mesmo que seja muito difícil. É para fazer, faz-se. E temos é de aprender a viver com esta realidade”, declarou.

Numa das barraquinhas de comes e bebes, o eurodeputado do PCP e vereador em Lisboa João Ferreira ia servindo algumas (poucas) imperiais.

“Dá mais trabalho? Dá e verificará quem conhecer a festa que há mais gente com tarefas de assegurar que tudo corra bem, há mais turnos para fazer, há um cuidado que tem de haver e que não existiu noutras edições. É mais trabalhoso e, se calhar, isso também levou a que alguns eventos, por exemplo no verão, de índole comercial, os seus promotores tivessem decidido não os realizar”, afirmou.

Para João Ferreira, “neste caso, a festa tem um caráter diferente”.

“Não é uma festa comercial, não é um evento que se faça para a obtenção de lucro, é um evento que repousa em larguíssima medida no trabalho voluntário e é isso que aqui também podemos ver”, afirmou.

Por: Hugo P. Godinho e Ana Raquel Lopes da agência Lusa