
Antigo diretor do hotel "Mille Collines" em Kigali, Paul Rusesabagina, 66 anos, foi retratado no filme de 2004, que conta como salvou mais de 1.000 pessoas durante o genocídio ruandês.
De etnia hutu, tornou-se nos últimos anos um crítico do regime do Presidente do Ruanda, Paul Kagame.
Vivendo no exílio desde 1996 nos Estados Unidos e na Bélgica, país do qual se tornou nacional, foi detido em finais de agosto, no Ruanda, em circunstâncias estranhas, uma vez que estava a sair de um avião que pensava ter como destino o Burundi.
Os seus advogados denunciaram a detenção como sendo "um rapto".
"A assistência consular belga não é eficaz, é-lhe negado o acesso aos seus advogados, é-lhe negada medicação e está trancado numa sala sem janelas", disse a filha, Carine Kanimba, em conferência de imprensa.
Carine Kanimba acredita que o pai não terá um "julgamento justo", adiantando que "arrisca não só a prisão perpétua, mas também a morte".
"Dirijo-me às autoridades belgas, ao primeiro-ministro Alexander De Croo, porque está em posição de poder libertar o meu pai e negociar" com Kigali, disse Kanimba.
Paul Rusesabagina, cujo julgamento começou na quarta-feira, enfrenta 13 acusações, incluindo terrorismo, homicídio e financiamento de rebelião, pelo seu alegado apoio à Frente de Libertação Nacional (FLN), um grupo rebelde acusado de ataques mortais no Ruanda.
Rusesabagina contesta o direito do tribunal de o julgar com base na sua nacionalidade belga. Os seus familiares dizem estar "muito preocupados" com a sua saúde, uma vez que, segundo afirmam, os medicamentos enviados através da mala diplomática belga nunca lhe foram entregues.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros belga, Paul Rusesabagina "recebeu assistência consular completa" e quatro visitas de pessoal diplomático para "monitorizar o seu estado de saúde".
Bruxelas recorda que se ofereceu para pôr em contacto médicos ruandeses e belgas para que ele possa receber os cuidados adequados.
Os ministros belgas da Justiça e dos Negócios Estrangeiros exigiram "um julgamento justo, equitativo e transparente" e o direito do acusado "a preparar a sua defesa nas melhores condições", durante conversações com os seus homólogos ruandeses, disse fonte da diplomacia belga, citada pela agência France Presse.
O advogado da família, Vincent Lurquin, criticou o governo belga, denunciando, na mesma conferência de imprensa, "um silêncio que corre o risco de se tornar cúmplice".
"O exemplo que o governo belga dá é que se um cidadão belga for raptado por um governo ditatorial, a Bélgica não se moverá", acrescentou Kanimba.
Lurquin disse ter apresentado uma queixa nos Estados Unidos e na Bélgica, acreditando que o sistema judicial da Bélgica é competente para investigar o rapto de um cidadão belga.
Segundo disse, Bruxelas "pode pedir ao governo ruandês que transfira" Paul Rusesabagina para a Bélgica, onde já foi aberta uma investigação contra ele a pedido de Kigali.
Bruxelas confirmou que tinha sido apresentada uma queixa e aberto um inquérito na Bélgica, mas salientou que "não dispõe de informações precisas" sobre as circunstâncias da detenção do Rusesabagina.
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