"Moçambique, o que estamos a fazer para evitar ser enganados? Esta questão da dívida, na verdade, não enganou o FMI. Enganou o povo de Moçambique, por isso não é sobre nós", considerou Abebe Aemro Selassie, o diretor do departamento africano do FMI, num briefing transcrito na página do fundo.
O FMI congelou os empréstimos a Moçambique (e os doadores internacionais suspenderam a ajuda ao país) depois de se descobrir em abril que o país tinha uma dívida escondida de 1,4 mil milhões de dólares, ou seja cerca de 10,7 por cento do PIB moçambicano.
O fundo diz que apenas retomará a assistência financeira se Moçambique iniciar rapidamente uma auditoria às suas contas.
"Apenas podemos trabalhar com os dados que nos são fornecidos, e damos conselhos com base nisso. Por isso, transparência fiscal e transparência no processo político são importantes, em primeiro lugar, para as pessoas dos países às quais os governos representam", sublinhou Selassie.
Por outro lado, o diretor do departamento africano do FMI também deu conta que existe "um entendimento muito bom" com o governo de Maputo quanto à forma como se vai processar a auditoria que o fundo exige.
"Tivemos uma missão recentemente em Maputo. A boa notícia é que há um bom acordo entre o governo e o FMI sobre alguns dos pré-requisitos da auditoria: haverá uma auditoria independente aos empréstimos contraídos por empresas detidas pelo Estado e esta auditoria será tornada pública. Será publicada", disse o responsável do FMI.
"Penso que este é um entendimento muito bom. Vamos ver como é que isto evolui nos próximos meses", concluiu.
A equipa do FMI que esteve na semana passada em Maputo notou que "Moçambique enfrenta um ambiente económico difícil", com um crescimento de 3,7% previsto para este ano (contra os 6,6% do ano passado) e com "uma inflação a subir acentuadamente", chegando aos 21% em agosto (comparação anual), alimentada por uma depreciação do metical em cerca de 40% desde o início do ano.
Quanto à auditoria internacional e independente às empresas EMATUM, Proindicus e MAM - que estiveram na origem da dívida oculta -, a equipa do FMI diz que "fez progressos consideráveis" junto do gabinete do Procurador-Geral da República na elaboração de um documento que permita a sua realização.
Comentários