Hadi Matar, libanês de 24 anos nascido nos Estados Unidos e considerado por especialistas em radicalismo islâmico um simpatizante do Irão e da Guarda Revolucionária iraniana, esfaqueou Salman Rushdie durante uma conferência em agosto de 2022, em Chautauqua.

Salman Rushdie ficou em estado crítico após o ataque, ligado a um ventilador em consequência da dezena de vezes que foi esfaqueado no pescoço e no abdómen. Agora, pela primeira vez, falou daquele dia à The New Yorker.

O escritor, que esteve internado durante seis semanas, ficou com sequelas do ataque. Perdeu mais de 18 quilos desde o esfaqueamento, está cego do olho direito, tem uma cicatriz na cara e o lábio inferior "pende para um lado". Um nervo da mão esquerda está danificado e condiciona os movimentos.

"Considerando o que aconteceu, não estou tão mal. As grandes lesões estão curadas, essencialmente", apontou, referindo que está a fazer "muita terapia manual".

Questionado sobre se consegue escrever ao computador, frisa que "não muito bem", já que tem "falta de sensibilidade nas pontas dos dedos". "Escrevo mais devagar. Mas estou a chegar lá", garante.

Lembrando que "foi um ataque colossal", Salman Rushdie confessa que durante algum tempo teve dificuldade em dormir devido a pesadelos."Parecem estar a diminuir. Estou bem. Sou capaz de me levantar e andar por aí", diz, assumindo, contudo, que ainda precisa de "exames constantes".

Rushdie referiu ainda que ficou surpreendido com os tributos que foram surgindo após o esfaqueamento. "É muito bom que todos tenham ficado tão emocionados. Nunca pensei em como as pessoas reagiriam se eu fosse assassinado ou quase assassinado".

"Tenho sorte. O que eu realmente quero dizer é que o meu principal sentimento avassalador é a gratidão", frisou.

Sobre o sucedido no dia do esfaqueamento, Rushdie recusou-se a responsabilizar os responsáveis ​​pela segurança da palestra e diz que apenas culpa Hadi Matar.

Ameaçado de morte desde uma ‘fatwa’ (decreto da lei islâmica) iraniana de 1989, um ano após a publicação de "Os Versículos Satânicos", Salman Rushdie foi assim alvo de um ataque que chocou o Ocidente, mas que foi bem recebido por extremistas no Irão e no Paquistão.

Residente em Nova Iorque há 20 anos, Salman Rushdie tinha começado a retomar uma vida mais ou menos normal enquanto continuava a defender a sátira e a irreverência nos seus livros.

"Os Versículos Satânicos" são considerados pelos muçulmanos radicais como uma blasfémia contra o Alcorão e o Profeta Maomé.

(artigo atualizado às 23h36)