O Exército israelita assegurou que antes de atirar "ao lado" da base, teria pedido aos soldados da ONU para se manterem "em espaços protegidos". No entanto, o incidente gerou protestos de Washington, Paris, Roma, Madrid, Dublin e Jacarta, além de ter motivado uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, nesta quinta-feira.

A Itália, um dos países que mais fornecem tropas à força, com cerca de 900 militares mobilizados, indicou que os eventos "poderiam constituir crimes de guerra".

Embora Israel tenha admitido os disparos em Ras al Naqura, os israelitas insistiram que os militantes do Hezbollah, contra os quais trava uma guerra cada vez mais intensa, operam perto de posições da ONU.

Este é o pior incidente registado pela missão de manutenção de paz desde que anunciou, na semana passada, ter rejeitado as exigências de Israel para "realocar-se" de algumas das suas posições.

Os soldados feridos, de nacionalidade indonésia, "estão hospitalizados", mas os seus ferimentos "não são graves", detalhou a Unifil. O embaixador da Indonésia na ONU, Hari Prabowo, denunciou no Conselho de Segurança da ONU que o ataque "mostra claramente como Israel colocou-se acima do direito internacional, da impunidade e de nossos valores de paz".

O incómodo internacional com o incidente não se fez tardar — e veio numa enxurrada. A Espanha, que dirige a Unifil, pediu que se "garanta" a segurança dos capacetes azuis e a Irlanda classificou o ocorrido como um "ato irresponsável" que "deve cessar".

A Casa Branca, por sua vez, disse que está "profundamente preocupada" com os relatos de que Israel atirou contra a sede das forças de paz da ONU no sul do Líbano, informou hoje um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

A França, que antes do incidente tinha solicitado ao Conselho de Segurança uma reunião sobre o tema do Líbano, "condenou qualquer ataque à segurança" dos soldados a ONU.

A Unifil, que conta com cerca de 10.000 soldados de manutenção da paz no sul do Líbano, tem pedido de forma insistente um cessar-fogo desde que a escalada entre Israel e Hezbollah se intensificou em 23 de setembro.

O chefe das forças de manutenção de paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, disse nesta quinta-feira no Conselho de Segurança que a força internacional corre "graves riscos" e que, no domingo, 300 capacetes azuis tinham sido realocados temporariamente em bases mais amplas e que está prevista a transladação de "outros 200".

Na noite desta quinta-feira, pelo menos 22 pessoas morreram em dois bombardeamentos israelitas no centro de Beirute, no ataque mais letal contra a capital libanesa desde que Israel e Hezbollah entraram em guerra aberta.

Segundo o Ministério da Saúde do Líbano, 22 pessoas morreram e 117 ficaram feridas nos ataques aéreos que, segundo a agência de notícias oficial libanesa, atingiram dois bairros residenciais densamente povoados.

Também nesta quinta, o Hezbollah afirmou ter "destruído um tanque israelita que avançava" para Ras al Naqura e que disparou rockets contra outra frente de Israel que se aproximava da cidade fronteiriça de Meiss al Jabal.

Desde que começou a troca de tiros de artilharia entre Israel e o Hezbollah, mais de duas mil pessoas morreram no Líbano, 1.200 delas desde a intensificação dos bombardeamentos israelitas em 23 de setembro, segundo um balanço da AFP com base em números oficiais.

Na Faixa de Gaza, onde Israel voltou a intensificar os seus ataques aéreos e operações terrestres, o Crescente Vermelho palestiniano anunciou que 28 pessoas morreram e 54 ficaram feridas em um bombardeamento contra uma escola que abrigava famílias deslocadas.

Segundo um porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmud Bassal, pelo menos 140 pessoas morreram em Jabalia desde o começo da operação israelita e "um grande número" de civis estão presos sob os escombros, sem que as equipas de resgate consigam intervir devido à situação da segurança.

Por sua vez, o Exército israelita informou que três dos seus soldados morreram no norte da Faixa de Gaza, elevando as suas baixas para 353 soldados no último ano.

O conflito entre Israel e Hamas teve início em 7 de outubro de 2023, após o ataque sem precedentes do movimento islamista palestiniano em território israelita, que causou a morte de 1.206 pessoas, civis em sua maioria, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelitas.

Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva implacável no pequeno território palestiniano, governado pelo Hamas, na qual morreram 42.065 pessoas, também civis na maioria, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, que a ONU considera confiáveis.