O processo foi entregue na segunda-feira ao presidente da Comissão Nacional da UNESCO, o embaixador José Moraes Cabral, numa cerimónia que decorreu no Centro de Estudos de Arquitetura Militar, na Praça-forte de Almeida (distrito da Guarda).
O coordenador da candidatura, João Campos, referiu à agência Lusa que a proposta assenta numa série de bens fortificados com determinadas características ao longo da fronteira entre Portugal e Espanha.
“É uma proposta que evidencia um conjunto de valores históricos e culturais de Portugal e da relação com Castela [Espanha], e que assinala o facto de termos em vigor a fronteira mais antiga do mundo”, destacou.
João Campos salientou que um dos critérios invocados foi aquilo que a fronteira permitiu sobre os desenvolvimentos do conhecimento e da cultura que perduraram ao longo do tempo.
“Não são só as pedras. É o imaterial, é aquilo que está subjacente ao conhecimento e aos desenvolvimentos que ele permitiu. Os grandes tratados nessa altura foram produzidos por engenheiros que trabalharam na fronteira portuguesa. Essa difusão foi de extraordinária importância ao nível do desenvolvimento da cultura”, sublinhou.
O coordenador revelou que a proposta salienta também que se trata de “uma fronteira de paz, porque embora tenha sido construída com a guerra, é onde há menos beligerância no mundo”.
João Campos fez ainda notar que a fronteira portuguesa é de uma enorme extensão.
“Pensamos sempre que somos um país pequeno, mas na verdade é uma obra extraordinária em termos de dimensão do ponto de vista patrimonial”.
E realçou que a fronteira de Portugal conjuntamente com a fronteira da Rússia com a Finlândia são as duas maiores da Europa entre dois países.
A candidatura envolve os concelhos de Almeida (distrito da Guarda), Marvão (Portalegre) e Valença (Viana do Castelo), mas a proposta apresentada à UNESCO prevê a entrada de bens com características idênticas, localizados do outro lado da fronteira.
“É uma série aberta, admite que seja alargada a outros bens idênticos, podendo vir a transformar-se num bem transfronteiriço”, sustentou João Campos.
O coordenador apontou à Lusa que como todas as candidaturas é um “processo complexo e muito exigente”, mas esta tem ainda a particularidade de ser coletiva.
“É uma candidatura muito trabalhada. Tem a característica de ter sido necessário trabalhar com três autarquias e isso implicou um debate constante”.
A expectativa é a de que a proposta de classificação pela UNESCO seja entregue em Paris em 2025, para uma avaliação prévia pelo grupo de peritos internacionais e posteriormente avançar para a avaliação do Comité Internacional.
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