Após uma campanha tímida por parte de Marine Le Pen — que, em maio, tinha dito que a “lógica das instituições dita que o Presidente da República tenha uma maioria” –, o seu partido, a União Nacional, ultrapassou largamente as expectativas: tendo como objetivo inicial conseguir, no mínimo, um grupo parlamentar — o que requer 15 deputados –, o partido de extrema-direita obteve 89.
A União Nacional torna-se assim o principal partido de oposição na Assembleia Nacional, tendo em conta que a coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), apesar de ter obtido 131 deputados, ficará divida em vários grupos parlamentares: 72 deputados serão da França Insubmissa, 24 do Partido Socialista, 23 da Europa Ecologia Os Verdes e 12 do Partido Comunista.
Os 89 deputados eleitos no domingo constituem uma progressão muito significativa e um resultado histórico para a União Nacional que, nas últimas eleições legislativas, em 2017, tinha conseguido eleger apenas oito deputados, contra dois em 2012 e zero em 2007.
Na história do partido de extrema-direita, o melhor resultado até agora tinha sido registado em 1986, quando tinham sido eleitos 35 deputados, numa altura em que o partido ainda era liderado pelo pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen.
No entanto, na altura, as legislativas tinham adotado um sistema eleitoral proporcional — situação única na história da Quinta República –, naquilo que alguns analistas consideram ter sido uma tentativa do então Presidente socialista, François Mitterrand, de ‘limitar’ a progressão dos seus rivais do partido de centro-direita RPR, liderados por Jacques Chirac.
O resultado da União Nacional nestas legislativas é tanto mais surpreendente que, ao contrário do escrutínio de 1986, foi realizado num sistema maioritário uninominal de duas voltas, que favorece tradicionalmente os candidatos ‘centristas’. Até agora, neste modelo de escrutínio, a União Nacional nunca tinha ido além dos oito deputados eleitos em 2017.
Segundo muitos analistas, o sucesso da União Nacional marca o fim da tradicional ‘frente republicana’ a nível local em França, que ditava que, quando um candidato do designado ‘eixo democrático’ enfrentava um adversário de extrema-direita, todos os restantes partidos deviam apoiar o candidato em questão.
Nestas eleições, a União Nacional conseguiu qualificar-se para a segunda volta em 208 círculos eleitorais: 106 candidatos enfrentaram um adversário da coligação presidencial, outros 61 um candidato da coligação de esquerda NUPES e outros 25 um representante do partido de centro-direita, Republicanos (Les Republicains). Em quase metade desses ‘duelos’, o candidato da União Nacional conseguiu vencer.
Os resultados mostram também uma forte implantação local do partido de extrema-direita: além dos bastiões tradicionais no norte e sul do país — em departamentos como Pas-de-Calais ou na bacia mediterrânica –, a União Nacional conseguiu também eleger deputados em territórios que, até hoje, nunca tinham tido qualquer representante de extrema-direita, como no departamento de Gironde, no ocidente do país.
Através do seu ‘bastião’ de Hénin-Beaumont — onde foi reeleita no domingo com 61,03% dos votos –, Marine Le Pen defendeu, hoje de manhã, que o resultado das legislativas foi “uma vitória para a União Nacional”.
“Ultrapassando um modo de escrutínio particularmente injusto e inadaptado à nossa época, o povo decidiu enviar um grupo parlamentar muito potente da União Nacional para a Assembleia. (…) Será, de muito longe, o maior grupo da história da União Nacional”, tinha ainda afirmado Le Pen na noite eleitoral de domingo, pouco depois de as primeiras projeções terem sido divulgadas.
O recém-reeleito Presidente francês, Emmanuel Macron, perdeu a maioria absoluta na Assembleia Nacional na segunda volta das eleições legislativas que decorreram no domingo.
A coligação Ensemble!, que apoia o chefe de Estado francês, conseguiu eleger 245 deputados, abaixo dos 289 necessários para alcançar a maioria absoluta.
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