Fora dos comícios, fora das luzes das câmaras que os jornalistas apontam aos onze candidatos às presidenciais francesas, há uma luta diferente. Com a primeira volta da eleição a aproximar-se, algumas zonas de Paris são palco de uma batalha de cartazes. Entre papéis rasgados e caras pintadas com spray, as paredes estão cobertas pelos rostos e slogans dos candidatos.
Na reta final para a primeira volta, este domingo, e com uma corrida liderada taco a taco por Marine Le Pen, Emmanuel Macron, Jean-Luc Mélenchon e François Fillon, os militantes portugueses que apoiam estes quatro candidatos prometem colar cartazes até sexta-feira à noite e intensificar a campanha de proximidade.
Se não há cuidado, há pauladas
Fernando Gonçalves chegou a França aos 15 anos. Hoje tem 52 e é militante do partido de direita Les Républicains (Os Republicanos). Tem andado a colar o rosto de François Fillon nas paredes do vigésimo bairro de Paris entre as três e as seis da madrugada; todavia, os “cartazes selvagens” não perduram intactos durante muito tempo e por isso Fernando promete andar nas ruas até ao último minuto de campanha.
“Renovamos os cartazes do nosso candidato para dizer que estamos presentes”, explica Fernando à agência Lusa. “Não deixamos arrancar, escrever e quando chegar domingo os cartazes têm de ficar como novos. Muita gente no último dia não sabe em quem vai votar e olha para os cartazes. Vamos colar até à meia-noite [de sexta-feira]”, conta o franco-português.
Empresário da construção civil, Fernando dedica o resto do tempo livre à distribuição de panfletos nas feiras, nas caixas de correio e nas saídas do metro. Admite que há zonas onde não vale a pena colar cartazes de Fillon e outras onde há que ter cuidado para “não levar uma paulada”.
Aqui "não entra a direita"
Nas ruas e ruelas do bairro de Belleville, em Paris, só se veem cartazes de esquerda porque aí “não entra direita”, explica Octávio Espírito Santo, militante comunista que lutou contra o fascismo em Portugal e agora apoia Jean-Luc Mélenchon, candidato do movimento La France Insoumise (A França Insubmissa).
“Nesta fase final, até sexta-feira, todos os dias colamos e renovamos [cartazes]. A campanha eleitoral fazemo-la todo o ano com os nossos ditos”, explica Octávio. Diretor de fotografia, o português diz que é “militante ao serviço de uma causa desde os 10 anos” e por isso “as eleições são um ato militante como qualquer outro”.
Octávio também tem andado a distribuir panfletos nas feiras e nota que a popularidade de Mélenchon tem aumentado. “De facto há uma confiança”, diz, explicando que o candidato “se bate por uma sexta” república e “por um programa próximo do Partido Comunista Francês”.
“Ele não está sozinho e pode, como presidente, efetivamente, estruturar a sexta república, uma nova constituinte e avançar com propostas de defesa social. Se a França dá uma volta, a Europa dá uma volta também”, considera.
Não há problema nenhum. Exceto quando há
Davy Rodriguez de Oliveira já apoiou Jean-Luc Mélenchon, o candidato da extrema-esquerda, nas eleições presidenciais de 2012. Hoje, porém, está do outro lado da escala e é atualmente vice-presidente da juventude da Frente Nacional, o partido de Marine Le Pen. Anda em campanha de apoio à candidata “desde janeiro, fevereiro”, percorrendo com o próprio carro várias cidades para se encontrar com militantes e responsáveis locais do partido.
Nas últimas semanas tem dado entrevistas a jornalistas portugueses e espanhóis. É que Davy é filho de uma portuguesa e de um espanhol. Para além disso, tem distribuído panfletos nas ruas e nas universidades. E colado cartazes.
“Estamos a colar às dez, onze da noite, não há nenhum problema”, conta Davy. “O que temos aqui nesta campanha é uma agressividade, por exemplo, dos movimentos ‘antifa’ (antifascistas). Atacaram um deputado nosso, atacaram o nosso meeting [encontro] no Zénith, atacaram a polícia de maneira realmente violenta”, aponta o lusodescendente, em referência aos incidentes no comício da Front National desta segunda-feira.
Convencer os indecisos
No distrito de Val-d’Oise, nos arredores de Paris, a colagem de cartazes de Emmanuel Macron, o candidato mais ao centro, também tem sido difícil, explica Carlos Soares de Sousa, coordenador da campanha do candidato do movimento En Marche! em Val-d’Oise.
“Arrancaram todos os cartazes em Beaumont, Saint-Ouen l’Aumône e Pontoise. Sistematicamente quando as equipas colam um cartaz, vão logo rasgar”, afirma à Lusa o vereador em Cormeilles en Parisis, que aponta o dedo a militantes da Frente Nacional.
Carlos Soares de Sousa também tem organizado reuniões públicas com especialistas do programa de Macron e “nos últimos 15 dias, das 6h30 às 8h00”, tem estado com outros militantes à saída dos caminhos-de-ferro para distribuir panfletos, sublinhando que a sua “missão até sexta-feira é convencer os 40% de eleitores que ainda não sabem em quem vão votar”.
No próximo dia 23, a França realiza a primeira volta das eleições presidenciais com onze candidatos: Marine Le Pen, Emmanuel Macron, Jean-Luc Mélenchon, François Fillon, Benoît Hamon, Nathalie Arthaud, Philippe Poutou, François Asselineau, Nicolas Dupont-Aignan, Jacques Cheminade e Jean Lassalle. A segunda volta é a 7 de maio.
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