Depois de uma campanha intensa e de uma primeira volta marcada pela exclusão dos partidos que partilharam o poder nas últimas cinco décadas – republicano e socialista -, a eleição vai decidir-se entre dois candidatos que se assumem como antissistema mas que têm visões completamente diferentes sobre o futuro de França e da Europa.

“Viramos hoje claramente uma página da vida política francesa”, disse à agência France Presse, nas vésperas da segunda volta, Emmanuel Macron, ex-ministro do governo socialista de François Hollande que criou em 2016 o movimento “En Marche!” para se candidatar pela primeira vez a uma eleição.

Na primeira volta, a 23 de abril, Macron foi o mais votado dos 11 candidatos na corrida, obtendo 23,7% dos votos, seguido de Le Pen, com 21,9% dos votos, segundo os resultados oficiais.

A líder da Frente Nacional reeditou com esta votação a prestação do pai, Jean-Marie Le Pen, nas presidenciais de 2002, quando passou à segunda volta. Le Pen pai acabou, contudo, derrotado pelo republicano Jacques Chirac, por 82,2% contra 17,7%.

Dezenas de políticos, empresários, intelectuais, artistas e cientistas apressaram-se a declarar o seu apoio a Macron e a apelar aos eleitores para porem um travão a Le Pen e à sua retórica nacionalista, anti-europeia e anti-imigração.

“O extremismo só pode trazer infelicidade, divisão, caos”, afirmou o candidato da direita republicana, François Fillon, concluindo: “Não há outra opção que não seja votar contra a extrema-direita”.

Benoît Hamon, o candidato socialista que assumiu uma “sanção histórica” ao obter apenas 6,2%, apelou igualmente para “derrotar o mais forte e poderosamente possível a Frente Nacional” de Le Pen.

Macron e Le Pen apresentam aos eleitores visões diametralmente opostas do futuro da União Europeia (UE) e do lugar de França na Europa: ele com uma visão otimista de uma França tolerante e de fronteiras abertas e ela com uma plataforma “a França primeiro” que passa por fechar fronteiras, reforçar a segurança e abandonar o euro.

Com Le Pen a defender a saída de França da UE e Macron a pedir mais cooperação europeia, o resultado da eleição de domingo tem subjacente a perspetiva, caso seja Marine Le Pen a ganhar, de um referendo sobre a permanência de França na UE.

A Constituição concentra o poder no chefe de Estado, mas quem for eleito, Macron ou Le Pen, vai precisar de uma maioria parlamentar que apoie o respetivo programa político, pelo que as legislativas que se realizam em junho serão decisivas.

Para domingo, sondagens publicadas na sexta-feira, último dia de campanha, prognosticam uma vitória folgada de Macron, com 62% das intenções de voto, contra 38% para Le Pen.

Se for eleito, Emmanuel Macron, 39 anos, será o mais jovem chefe de Estado da história de França desde Luis Napoleão Bonaparte (1848-1852), sobrinho de Napoleão Bonaparte, presidente aos 40 anos.