Nove em cada 10 trabalhadores não docentes (90,2%) estão insatisfeitos com o ordenado, segundo o estudo “Melhores escolas com trabalhadores não docentes valorizados e reconhecidos: Resultados do estudo nacional”, a que a Lusa teve acesso.
“Muitas destas pessoas recebem o salário mínimo”, afirmou Lúcia Miranda, uma das autoras do estudo que teve por base as entrevistas realizadas no ano passado a 600 trabalhadores de escolas de todo o país.
Mulheres, com mais 46 anos de idade e com habilitações literárias baixas são as principais características que definem a maioria dos funcionários não docentes das escolas portuguesas, segundo o estudo do Sindicato dos Técnicos Superiores, Assistentes e Auxiliares de Educação (STAAE) que veio confirmar o perfil traçado pelo Ministério da Educação.
A maioria dos inquiridos exerce funções de assistente operacional (67,2%) e, também por isso, o estudo apresenta estes trabalhadores como um grupo com baixas habilitações literárias: Mais de metade (51%) tem apenas o 1.º ou 2.º ciclo e só 22,3% conseguiram concluir o secundário. Apenas 2% têm formação superior.
Além disso, queixam-se da dificuldade em ter formação contínua e profissional. Segundo o relatório, 51,6% afirmou não ter “acesso a este direito e dever do empregador”, sublinhou a autora do estudo em declarações à Lusa.
A maioria dos inquiridos sente também que não tem oportunidade para ser promovido ou para assumir maiores responsabilidades.
Resultado: os trabalhadores sentem-se desmotivados. De norte a sul do país, 36,6% admitiram estar completamente desmotivados ou ter um nível motivacional baixo, enquanto 43,4% disseram estar mediamente motivados. “Apenas 19% apontou um nível motivacional elevado”, disse Lúcia Miranda.
Apesar da pouca motivação e salários baixos, a maioria sente que o seu trabalho é reconhecido por alunos, pais, professores e diretores. No entanto, “há 30% que considera que o seu trabalho não é respeitado por ninguém”, disse a autora do estudo e vice-presidente do STAEE da zona norte.
Para os investigadores, o perfil identificado no estudo apresenta um grupo de trabalhadores - mulheres, já com alguma idade e sobrecarga e desgaste profissional – que tendencialmente poderão vir a usufruir de baixas médicas e a necessitar de apoio médico e psicológico.
Os funcionários queixam-se também de não serem chamados a participar nas decisões que dizem respeito a alterações ao seu local de trabalho.
Lúcia Miranda deu como exemplos as mudanças de horário de trabalho, a mobilidade dentro da própria escola ou quando as autarquias decidem mudar um funcionário de uma escola para outra.
No total, “72,7% dizem não participar nas decisões. É uma percentagem muito elevado”, criticou a investigadora em declarações à Lusa.
A discriminação na escola foi outro dos assuntos abordados: Se a maioria (80%) não viu aqui qualquer problema, 14,5% admitiu já ter sido discriminado.
O estudo será apresentado no próximo fim de semana pela Federação Nacional da Educação e pelo STAAE-ZN durante o seminário 'Melhores escolas com Trabalhadores Não Docentes valorizados, qualificados e reconhecidos: Resultados da Consulta Nacional 2019'.
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