Enquanto os trabalhadores se esforçam para restabelecer o serviço, centenas de moradores refugiam-se em locais públicos com ar-condicionado habilitados como "centros de arrefecimento", após cinco dias sem luz. Outros enfrentam enormes filas de carros à procura de um pouco de gelo, água e alimentos.
O furacão Beryl chegou aos Estados Unidos na segunda-feira e deixou pelo menos oito mortos, sete deles no Texas, onde atingiu a costa. A próspera indústria petrolífera não foi afetada, mas bairros e estradas foram inundados, árvores arrancadas pela raiz e postes e linhas de transmissão sofreram danos.
Antes de perder força, Beryl deixou mais de dois milhões de pessoas sem energia. Quase metade deles ainda não teve o serviço restaurado, de acordo com o site poweroutage.
Em Houston, a quarta maior cidade dos Estados Unidos, Josh Vance, de 43 anos, vive com os seus dois filhos e a gata. Durante o dia, procura abrigo num centro comunitário com ar-condicionado, enquanto as temperaturas externas chegam perto de 40°C.
Mas à noite precisa voltar para a sua casa, que tem sido castigada pelo sol. "Lidar com o calor em casa é terrível. Estamos a sofrer. Tento manter o ânimo alto para os meus filhos, mas não vou mentir. Este calor está a matar-nos. Está a sugar a vida e a alma do meu corpo", explica.
Josh deixou todas as janelas abertas e mesmo assim encontrou a sua gata "quase morta". "É uma das coisas mais miseráveis que já senti na minha vida. Acordei esta manhã com os olhos quase inchados, fechados e vermelhos, não sei por quê", conta.
"Estamos habituados a ter energia e, sem ela, é como viver no inferno", ele explica.
A autonomia do Texas
Os Estados Unidos têm duas grandes redes elétricas: uma para o leste e outra para o oeste. Cada rede está conectada a diferentes fontes de energia e, se um estado enfrenta problemas, outro da mesma rede pode oferecer suporte. Mas o Texas é o único estado com uma rede elétrica autónoma.
Em fevereiro de 2021, uma onda de frio incomum fez o sistema elétrico deste estado entrar em colapso, devido à alta procura por aquecimento. O serviço de gás natural também foi afetado. Dezenas morreram de frio.
Em Houston, a rede de transmissão e distribuição é gerida pela empresa CenterPoint. Funcionários e cidadãos questionaram a demora em restabelecer o serviço, considerando que foi um furacão de categoria 1, a menor na escala.
"Sinto que subestimaram o impacto da tempestade (...) Parece que não estavam tão preparados como deveriam ter estado", disse na quinta-feira o vice-governador do Texas, Dan Patrick, que anunciou uma investigação.
"Entendo o quanto é frustrante ficar sem eletricidade, especialmente com este calor (...) Mas estou orgulhoso do progresso que alcançamos", disse ao jornal Houston Chronicle o diretor-executivo da empresa, Jason Wells, explicando que o serviço já foi restaurado para metade dos afetados.
Enquanto se apuram responsabilidades, a comida no frigorífico de Maria Dionisio está a estragar-se. Foi para um "centro de arrefecimento" no sul de Houston com seu bebé para se refrescar e receber um pouco de gelo e água.
"A luz acabou, ficámos com medo e foi complicado. Fiquei muito assustada pelo meu bebé. A luz não voltou, está complicado (...) Não há mais nada para comer, todos os alimentos no frigorífico estragaram-se", diz a guatemalteca, num estado onde 40% da população é latina.
No norte da cidade, uma fila de mais de um quilómetro de carros forma-se para receber água e alimentos. Brittany Nave, de 40 anos, está com os seus três filhos à espera de alimentos.
Diz que tem sido difícil dormir confortavelmente. "Tem feito muito calor e estamos à procura de coisas para fazer. Mas estamos agradecidos pela água e pelo gelo", diz.
Mas nem todos estão otimistas. "Peço a Deus que não haja outro [furacão] depois deste porque, se houver, estaremos em apuros. Nem conseguimos lidar com um de categoria 1... É loucura", assegura Josh.
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