“O rio Crocodile está a ser submetido a enorme pressão com a captação de água por várias fontes, nomeadamente indústria, agricultura e uso doméstico, e a introdução de mais um projeto mineiro neste sistema sob condições de stress hídrico terá consequências catastróficas não só para o ambiente como também para todos os habitantes na região e atividades económicas relacionadas”, afirma John Davies, do Endangered Wildlife Trust, na edição de hoje do semanário Saturday Star.

O especialista em conservação da vida selvagem sublinha que “esta fonte hídrica é também vital para Moçambique e a redução do caudal do rio Crocodile irá afetar os acordos bilaterais existentes entre a África do Sul e Moçambique para a utilização e partilha dos recursos hídricos”.

Segundo o jornal, que se publica em Joanesburgo, em causa está o licenciamento de um megaprojeto mineiro da empresa sul-africana Manzolwandle Investments, com sede em Malahleni (antiga Witbank), província de Mpumalanga, para a extração de carvão e derivados numa vasta área de 17.975 hectares de fazendas agrícolas e destinos turísticos situados entre o Parque Nacional Kruger e Komatipoort, junto à fronteira com Moçambique.

A proposta para mina prevê produzir anualmente cerca de 20 milhões de toneladas de carvão, para o qual irá utilizar aproximadamente 11.62 mil milhões de litros de água por ano, segundo dados avançados por Cindy Benson, da Associação de Moradores de Marloth Park, uma das localidades adjacentes ao parque Kruger que será afetada pelo proposto projeto mineiro.

“A principal ameaça é o impacto que esta mina de carvão terá na nossa água [potável]”, salienta.

“O rio Crocodile não abastece apenas os animais, alimenta também todas as pessoas e comunidades nesta área, (…) não existe água potável para todos porque os rios têm muito pouca água e ainda assim querem destruir ainda mais o rio”, adianta Cindy Benson.

Já Francois Rossouw, do grupo agrícola Saai, alerta que “a quantidade de água para a mina operar irá diminuir significativamente os lençóis de água das fazendas adjacentes e afetar a irrigação dos campos agrícolas ao longo de 300 quilómetros junto ao leito do rio”.

“Julgo que não é responsável conceder uma licença de mineração na África do Sul que afete a qualidade de água em Moçambique. Tencionamos abordar com as autoridades moçambicanas o impacto que esta mina terá no lado deles”, salientou.

Francois Rossouw diz tratar-se de uma área agrícola “de elevada intensidade”, questionando: “Porque é que querem [o governo] colocar uma mina de carvão numa das áreas mais bonitas do país?". “Tencionamos recorrer à Justiça se necessário”, afirma.

Todavia, Raymond Zulu, da direção da empresa Manzolwandle Investments, insiste na continuidade do projeto.

“Os únicos a queixarem-se são os brancos. Alguns nem sequer moram em Marloth Park. Estão na Austrália, em Inglaterra, em Joanesburgo e na América. Nós vamos começar a extrair [carvão] a cerca de 12 quilómetros de Marloth Park”, afirma o diretor da empresa.

“As pessoas que nos estão a apoiar são negros. Estão com fome e nós temos que começar a desenvolver as suas vidas e lugares de maneira certa. O Kruger é longe do sítio onde vamos extrair [carvão]. Não posso comentar sobre quem se importa mais com os animais do que com seres humanos”, adiantou Raymond Zulu ao jornal sul-africano.

“O que ele [Raymond Zulu] não diz é como esta mina vai arruinar centenas de postos de trabalho nos setores da hospitalidade, turismo e da agricultura, que são as maiores fontes de rendimento financeiro e económico em Mpumalanga. Quem é vai querer visitar Marloth Park, Ngwenya e o Kruger com uma mina de carvão à porta?”, diz Cyndy Benson.

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