“O Governo português não entende que tenha havido uma omissão”, afirmou hoje Augusto Santos Silva, respondendo a questões sobre a ausência de referências a Portugal enquanto parceiro estratégico no discurso de tomada de posse de João Lourenço, na terça-feira, em Luanda.

“Há uma maneira muito simples, a meu ver, de compreender o que está em causa na relação entre Portugal e Angola, que é ter em atenção o modo como uma praça inteira reagiu à primeira menção do nome e do cargo do Presidente da República Portuguesa", comentou o governante, numa referência ao facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter sido o chefe de Estado estrangeiro mais aplaudido na cerimónia.

Para o chefe da diplomacia portuguesa, que acompanhou o Presidente português nos dois dias de deslocação a Angola, "isso diz tudo sobre a densidade das relações entre os dois países, entre os dois povos, entre as duas sociedades", acrescentando: "E com essa densidade não é preciso multiplicar as referências, porque todos sabemos que a parceria existe”.

“Do que ouvi, quer publicamente, quer nos encontros privados, retiro confiança no desenvolvimento das relações entre Portugal e Angola”, sublinhou o ministro, à saída de uma reunião com a comissária europeia da Concorrência, Margrethe Vestager, na sede do executivo comunitário, em Bruxelas.

Santos Silva escusou-se a comentar o discurso de João Lourenço, referindo apenas que aspetos mencionados pelo Presidente angolano, como a “diversificação da economia, a modernização administrativa, a descentralização”, já estão contemplados na “cooperação bilateral em curso entre Portugal e Angola”.

“O que me parece natural é que Angola diga em relação a Portugal, e Portugal diga em relação a Angola, que se trata de parceiros que queremos, na convicção de que cada um respeita a soberania nacional do outro, isso parece-me lógico, é o que eu próprio digo”, mencionou ainda Santos Silva.

"Angola dará primazia a importantes parceiros, tais como Estados Unidos da América, República Popular da China, a Federação Russa, a República Federativa do Brasil, a índia, o Japão, a Alemanha, a Espanha, a Franca, a Itália, o Reino Unido, a Coreia do Sul e outros parceiros não menos importantes, desde que respeitem a nossa soberania", anunciou hoje João Lourenço, no seu discurso de investidura.

O novo chefe de Estado não fez qualquer referência a Portugal, principal origem das importações angolanas, no seu primeiro discurso oficial, numa altura de tensão na relação entre os dois países, decorrendo investigações das autoridades portugueses a figuras do regime angolano.

Marcelo Rebelo de Sousa não quis comentar o discurso do agora homólogo angolano.

“O fundamental é eu ter sentido, em todos os encontros, ontem e hoje, que o povo português é visto como um povo irmão e o Estado português é visto como um Estado irmão, relativamente ao povo e ao Estado angolano", disse o Presidente português, ainda esta terça-feira em Luanda.