À saída da Assembleia da República (AR), onde nas galerias do hemiciclo assistiram à votação que ditou o chumbo do texto final da apreciação parlamentar do diploma sobre o tempo de serviço e que inviabilizou a recuperação dos mais de nove anos reivindicados, os líderes sindicais dos professores e outros dirigentes juntaram-se e num breve protesto deram o tom para o que ainda pode estar para vir.

À chuva, os professores foram gritando “A luta continua”; “9 anos, 4 meses, 2 dias”; “Gatunos”; “Mentirosos” e “O tempo é para contar, não é para apagar”, à medida que os deputados iam saindo pela porta lateral e seguiam indiferentes aos protestos.

Mário Nogueira reconheceu que o que aconteceu foi “o chumbo anunciado” e citou o histórico líder socialista Mário Soares para garantir que os professores não vão baixar os braços.

“Era o chumbo anunciado. O que podemos dizer é que hoje estão de parabéns o PS e o Governo, porque ganharam esta batalha, mas podem escrever e ter a certeza, que vão perder esta guerra, porque o que eles hoje meteram foi a mão na dignidade dos professores e do seu tempo de serviço. Portanto, quem faz isso e quem o fez no passado e o faça no futuro vai sempre perder. Como nós conseguimos ler ali na parede da sede do PS no [Largo do] Rato é que só é vencido quem desiste de lutar. Como o PS já sabe que os professores não desistem de lutar, os professores não vão ser vencidos”, disse.

O líder da Fenprof lamentou o desfecho e que esquerda e direito não tenham sido capazes do entendimento necessário para garantir a contagem integral do tempo de serviço, um objetivo que apenas o PS recusava.

“Contribuíram objetivamente para isso a incapacidade dos restantes cinco partidos, que declarando que são favoráveis à contagem de todo o tempo de serviço depois, objetivamente, acabaram por confluir em interesses que são distintos e que levou a que nada fosse aprovado”, disse.

Com as alterações chumbadas, “o que é que fica?”, interrogou-se Mário Nogueira.

“Fica que os professores vão à luta, fica que os sindicatos vão ouvir os professores na segunda-feira e na terça-feira, vão reunir-se na quarta-feira e vão dizer às 18:30 o que vão fazer, sendo certo que até ao último dia da legislatura estaremos presentes. Aliás, apelaremos aos professores para irem votar com o crachá dos nove anos, quatro meses e dois dias, tanto agora como em outubro, e no primeiro dia após a tomada de posse do Governo estamos à porta do ministério a dizer ao senhor ministro que se quer, de facto, pacificar o setor e avançar com negociações tem que primeiro resolver este problema”, respondeu o líder da Fenprof à sua própria pergunta.

João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE), também recusou dar a luta como perdida e garantiu que os professores não desmobilizam.

“Os professores saem daqui hoje animados para a necessidade de continuarem a desmontar as mentiras que têm sido apresentadas relativamente ao impacto orçamental e à injustiça ou ao privilégio que haveria para os professores se esta medida viesse a ser adotada. Não estamos a falar de privilégios, não estamos a falar de condições que impliquem alterações orçamentais significativas, não estamos a falar de nada que não possa ser pago por aquilo que está previsto no Orçamento do Estado”, sublinhou o secretário-geral da FNE.

João Dias da Silva insistiu que as reivindicações dos professores são aquilo a que têm direito, que a contagem integral do tempo de serviço “é de justiça”, e que apesar de não ter sido conseguida esta legislatura os professores, “com o próximo Governo”, vão continuar a trabalhar para esse objetivo.

Também o líder da Fenprof defendeu que a luta não se esgotou neste chumbo e que esta não era a derradeira oportunidade para a contagem integral do tempo de serviço.

“Só se esgota quando nós desistirmos. E como nós na quarta-feira vamos provar em conferência de imprensa às 18:30 não se vai esgotar nada”, afirmou.

Mário Nogueira voltou a garantir que os professores “vão entrar” na campanha eleitoral e disse, lembrando o histórico das lutas entre professores e governos socialistas, que da parte dos professores não haverá agradecimentos ao PS.

“O que é que os professores têm para dar ao PS? Tudo menos beijos. De facto, agradecimentos não há, o que há é luta com que o Governo vai ter de se confrontar, seja ele este Governo, seja, se não resolver o problema, o Governo seguinte”, disse.

(Notícia atualizada às 15h07)