No seu discurso de abertura do V Congresso dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco lamentou que “o cartão do partido” tenha por vezes valido mais “do que a competência individual, o profissionalismo” e a paixão pela causa pública.
“Os sucessivos governos foram olhando para a saúde como um castelo dourado onde podiam arrumar príncipes e princesas que não tinham onde instalar. Os resultados estão à vista”, afirmou.
A bastonária entende ainda que “o país não estava e não está preparado” para quem fale verdade no setor da saúde, nem para quem queira “mostrar as feridas, questionar o diagnóstico e combater as receitas”.
“Está aqui a enfermagem que tem uma palavra a dizer (…). Está aqui a enfermagem que não se conforma com as condições de trabalho a que está sujeita. Está aqui a enfermagem que deitou fora o medo e se encheu de coragem”, declarou, dirigindo-se à plateia de enfermeiros que até domingo participa no Congresso que decorre em Lisboa.
O financiamento e a forma de gerir a Saúde vão estar no centro do debate do Congresso dos Enfermeiros, onde são esperados cerca de mil profissionais.
Em entrevista à agência Lusa antes do arranque do Congresso, a bastonária dos Enfermeiros referia que o financiamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um tema que urge debater, apesar de duvidar que seja possível atualmente um pacto para a saúde.
“Acredito que [um pacto para a saúde] é possível, mas só com determinados intervenientes. Será possível, mas têm de ser as pessoas certas. Não tenho a certeza se hoje todas as pessoas que compõem a área da saúde são as mais acertadas para compor esse pacto”, afirmou Ana Rita Cavaco.
Contudo, a representante dos enfermeiros reconhece que era importante e urgente um pacto nesta área: “Daqui a pouco, o que vamos ter é uma sombra do que era o SNS. E temos de pensar se queremos um SNS para pobrezinhos, porque é para lá que estamos a caminhar”.
Quanto ao financiamento e à forma de gestão do SNS, Ana Rita Cavaco considera que é sobretudo um “problema de subfinanciamento”, mas não só, defendendo que é necessária outra forma de financiar o sistema.
“A forma como estamos a financiar o SNS está progressivamente a ser abandonada por outros países”, indica a bastonária, defendendo um financiamento “por pacote de tratamento às pessoas” e não por atos de saúde.
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