O espaço europeu está a ser afetado por uma subida a pique dos preços da energia em consequência da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano, e à imposição de sanções económicas a Moscovo pela União Europeia, que puseram em causa o fornecimento de energia da Rússia à Europa.

Na região parisiense, deslocam-se diariamente de transportes públicos cerca de 12 milhões de pessoas e a comunicação social previa que esta quinta-feira fosse “um dia negro”.

Mas na capital francesa, apesar de hoje terem circulado poucas composições do metropolitano, não houve sobrelotação, tendo muitos trabalhadores optado pelo teletrabalho ou por meter uma folga antes de um fim de semana de três dias, devido à ponte do 11 de Novembro.

Só as linhas automatizadas (1 e 14) funcionaram normalmente, estando cinco linhas fechadas e as outras em funcionamento apenas às horas de ponta, com um serviço muito reduzido.

Nos comboios suburbanos (RER), a situação não foi diferente, com um em cada três e um em cada dois em circulação, consoante as linhas, porque a convocatória das centrais sindicais francesas não se limitava ao metropolitano da capital: previa-se, além de uma paralisação geral dos transportes em todo o país, também uma greve nos setores da Educação, da Saúde e dos correios.

Há muito tempo que todos os sindicatos da Autoridade de Transportes de Paris (RATP) apelavam para uma mobilização exigindo aumentos salariais e uma melhoria das condições de trabalho.

A RATP, como as outras empresas do setor dos transportes, padece de um défice crónico de trabalhadores, devido a dificuldades de recrutamento, e de uma explosão do absentismo, principalmente na sua rede de autocarros.

A queda do poder de compra num cenário de inflação galopante está a alimentar a contestação em toda a Europa, com greves nacionais realizadas na quarta-feira na Bélgica e na Grécia e também o anúncio de uma paralisação sem precedentes dos enfermeiros no Reino Unido nas próximas semanas.

Uma greve nas refinarias francesas em outubro perturbou fortemente durante várias semanas a distribuição de combustível em toda a França.

“Há um verdadeiro problema de poder de compra neste país, só aumentando os salários poderemos resolvê-lo”, insistiu o secretário-geral de uma das maiores centrais sindicais de França, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), Philippe Martinez, no desfile de Nîmes, no sul do país.

Mas, como na anterior jornada de protesto de 27 de outubro — que contou com 1.360 manifestantes na capital e 14.000 no resto do país -, poucas pessoas saíram à rua. A polícia contou mil manifestantes em Lyon, 650 em Lille e 300 em Bordéus.

Em Paris, foram 10.000, segundo a CGT, não tendo a polícia fornecido números durante a tarde.

Um aumento geral dos salários é a principal reivindicação, bem como o aumento do salário mínimo para 2.000 euros brutos e a indexação dos salários à inflação, algo que acontecia em França até 1983.

Outra das motivações desta greve é a reforma do sistema de pensões, com o Governo a apresentar o seu projeto no início de 2023 e sendo já certo o aumento gradual da idade da reforma até 2025.

A intenção de abrir as linhas de autocarros à concorrência até 2025, bem como o facto de o antigo primeiro-ministro francês Jean Castex ter sido nomeado administrador desta empresa pública não ajudou as negociações, embora este, que ainda não assumiu oficialmente o cargo, tenha anunciado que abriria negociações em dezembro.