“Fomos todos de férias até ao início de agosto, há muitas tarefas pela frente que precisam ser resolvidas, então Yvgeny Viktorovich [Prigozhin] decidiu deixar todos descansarem”, disse Anton Yelizarov ao jornalista Timofey Ermakov, de acordo com contas do Telegram ligadas a blogues militares hoje atualizadas.
“Pessoalmente, não vou ao mar com a minha família há cinco anos, outras pessoas agora também estão imersas nos assuntos familiares. Para dar a todos a oportunidade de descansar do grande trabalho que temos que fazer, foi tomada esta decisão pelo conselho de comandantes [do Grupo Wagner]”, observou o militar, conhecido como “Lotus”.
A conversa aconteceu numa pastelaria no sul da Rússia, onde o jornalista conheceu Yelizarov por acaso. O comandante explicou que, após as férias, começará o trabalho de transferência dos mercenários para a Bielorrússia, no âmbito do acordo firmado com o Kremlin, sob mediação do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, para impedir a rebelião armada em troca da anulação de processos criminais.
“Primeiro precisamos incutir sangue novo. A segunda coisa e mais difícil é o acesso à Bielorrússia. Temos que preparar bases, campos de treino, coordenar com os governos e administrações locais, organizar a interação com a aplicação da lei bielorrussa e estabelecer a logística”, prosseguiu.
“Há muito trabalho e as tarefas não são fáceis, mas quanto mais difícil a tarefa, mais interessante ela é. Acho que podemos fazê-las”, disse Yelizarov.
Esta semana, Lukashenko disse que Prigozhin, que deveria exilar-se na Bielorrússia, estava em São Petersburgo e os seus mercenários nas suas bases na Rússia.
Segundo o líder bielorrusso, o problema da transferência dos mercenários ainda não foi resolvido e a empresa militar tem uma visão “diferente” da sua futura missão, que consistiria em treinar e assessorar o Exército.
De qualquer forma, disse, a relação com o Grupo Wagner e a Bielorrússia será definida por lei ou por decreto presidencial.
O comandante de Wagner também disse que está a acompanhar a situação na Ucrânia e está “preocupado com o que está a acontecer”.
“Mas, quando eles não te ouvem, eles ignoram todas as propostas e formas de resolver os problemas, mesmo quando falamos sobre isso com o mundo inteiro, então provavelmente é melhor afastarmo-nos e observar o que acontece de fora”, disse “Lótus”.
“Embora seja muito ofensivo e doloroso quando há propostas e oportunidades para resolver o problema e elas são atiradas fora, como os nossos sábios ancestrais costumavam dizer, esperemos para ver. E ficaremos de lado e assistiremos em silêncio”, prosseguiu.
No entanto, observou que, se os mercenários forem chamados para ajudar a pátria pelo povo russo, eles estão prontos para fazê-lo.
O Grupo Wagner, liderado por Prigozhin, iniciou na noite de 23 para 24 de junho uma rebelião com a captura sem resistência da cidade russa de Rostov, sede do comando sul do Exército, com a intenção de se dirigir a Moscovo para afastar as lideranças militares em resposta a um alegado bombardeamento contra os soldados mercenários na Ucrânia.
Em pleno conflito com o Kremlin e a 200 quilómetros da província de Moscovo, uma coluna militar do Grupo Wagner deu meia-volta, na tarde de 24 de junho, após mediação do Presidente bielorrusso, num acordo para travar a revolta, amnistiar os mercenários e enviar Prigozhin e alguns dos seus homens para o exílio na Bielorrússia, e oferecendo a outros a possibilidade de serem integrados nas forças regulares da Rússia.
O grupo Wagner esteve na linha da frente desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, tendo assumido protagonismo na conquista de Bakhmut, na província de Donetsk (leste), na mais longa e sangrenta batalha desta guerra, à custa de elevadas baixas, entre acusações abertas de Prigozhin de falta de apoio militar por parte de Moscovo.
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