O opositor e presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, reconhecido Presidente interino venezuelano por cerca de 50 países, regressou à Venezuela após um périplo de uma semana por vários países daquela região e sob a ameaça de ser detido pelas forças de seguranças venezuelanas.

O Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela (STJ) proibiu, em finais de janeiro, o autoproclamado Presidente interino venezuelano de sair do país.

"Seguimos nas ruas, seguimos mobilizados. Estamos aqui na Venezuela. Estamos aqui mais fortes", declarou o opositor, enquanto os seus simpatizantes gritavam "Guaidó, Guaidó!", segundo imagens transmitidas pelos canais de televisão pela internet.

Desde que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó tem vindo a pedir ao presidente Nicolás Maduro para que peça a demissão. Os dois têm estado num confronto que ameaça escalar, sendo que Guaidó já foi reconhecido por mais de 50 países - Portugal inclusive - e Maduro mantém-se apoiado pela China, a Rússia, a Turquia, o México e a Cuba, entre outros estados.

Para já, não ocorreram quaisquer incidentes desde a entrada de Juan Guaidó no país, apesar de arriscar ser detido. O próprio anunciou através de várias mensagens no Twitter de que a sua chegada se fez nos trâmites habituais.

"Já na nossa terra amada! Venezuela, acabámos de passar pela Migração e vamos mobilizarmos para junto do nosso povo", escreveu, acrescentando depois que a sua comitiva entrou no país "como cidadãos livres", instando para que "ninguém nos diga o contrário".

O retorno de Guaidó à Venezuela coloca o governo de Maduro perante um dilema: se prender o líder opositor, provocará uma forte reação internacional e interna, e se o deixar livre, colocará em evidência a sua fraqueza em controlá-lo.

O embaixador da França, Romain Nadal, declarou à imprensa que o grupo de diplomatas está a acompanhar o líder "como testemunhas da democracia e da liberdade para que o presidente Guaidó possa entrar".

"Esperamos que não haja nenhuma escalada [de tensão] e que os venezuelanos sejam capazes de chegar a uma solução pacífica e acordada", disse o embaixador da Espanha, Jesús Silva, ao lembrar que Guaidó, chefe da Assembleia Nacional, goza de imunidade parlamentar.

Vestidos de branco, com bandeiras da Venezuela, centenas dos seus seguidores concentram-se na Praça Alfredo Sadel de Las Mercedes, na zona este da capital. As marchas começaram ao meio-dia (16 horas em Lisboa) por todo o país, onde nesta segunda-feira é feriado de carnaval.

Guaidó, de 35 anos, regressou de uma viagem pela Colômbia, Brasil, Paraguai, Argentina e Equador, após sair em segredo e entrar na Colômbia há dez dias, segundo ele, ajudado por militares venezuelanos, no âmbito da tentativa fracassada de entrada de ajuda humanitária na Venezuela.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que Guaidó deveria "respeitar a lei" e que se voltasse para a Venezuela "teria de ver a cara" da justiça - aliada ao governo -, que ordenou seu o impedimento de saída e congelou seus os bens, como parte de uma investigação por "usurpação" de funções.

Perante a multidão, o líder opositor mostrou triunfante o seu documento de identidade: "Aqui está meu passaporte, são e salvo", comemorou. "Bem-vindo presidente, foi isso que me disseram os funcionários da Imigração, como muito carinho e respeito", disse à imprensa.

Mais tarde, Juan Guaidó terá falado para os seus simpatizantes, pedindo aos membros das forças armadas para deter os "coletivos" que operam nas fronteiras com a Colômbia e o Brasil e que atacaram a caravana humanitária. “Senhores das Forças Armadas, devem deter os coletivos armados (…) ser cúmplice por omissão é um delito que lesa a humanidade", disse.

Guaidó acusou ainda o regime de Nicolás Maduro de não ser de "esquerda" mas de "assassinos" que massacram os venezuelanos. “O regime ofereceu a sua pior cara. Usou a sua última linha de defesa, os coletivos (grupos armados afetos ao regime) e presos armados, para massacrar os indígenas”, frisou.

Juan Guaidó fazia alusão aos acontecimentos ocorridos a 23 de fevereiro na fronteira da Venezuela com o Brasil em que quatro pessoas foram mortas, segundo a imprensa local, por defenderem a entrada de ajuda humanitária internacional no país.

Os Estados Unidos - que não descartam uma opção militar na Venezuela -, a União Europeia e vários governos latino-americanos expressaram preocupação pela sua segurança.

"Qualquer ameaça ou ato contra o seu retorno seguro encontrará uma forte e significativa resposta dos Estados Unidos e da comunidade internacional", advertiu no Twitter o conselheiro de segurança americano, John Bolton.

O vice-presidente americano, Mike Pence, deu uma réplica semelhante, avisando que "qualquer ameaça, violência ou intimidação contra ele não vai ser tolerada e vai ter uma resposta rápida". Pence acrescentou ainda que o retorno seguro de Guaidó é um assunto de "alta importância para os Estados Unidos".

A representante da União Europeia, Federica Mogherini, advertiu que qualquer medida que ponha "em risco a liberdade, a segurança ou a integridade pessoal" de Guaidó seria "uma grande escalada de tensões".

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

Os mais recentes dados das Nações Unidas estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões.

Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão deixado diariamente a Venezuela para procurar proteção ou melhores condições de vida.

[Notícia atualizada às 20:57- inclui declarações de Guaidó]

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