“A questão fundamental é: Seremos capazes de fazer entrar ajuda suficiente para manter as pessoas vivas? Já deixámos muito claro que, a menos que as coisas mudem radicalmente para melhor, a resposta é não (…). Precisamos de ver melhorias em muitas áreas diferentes”, respondeu o porta-voz adjunto, Farhan Haq, questionado em conferência de imprensa sobre a eficácia da nova doca.
O corredor humanitário marítimo permitirá entregar cerca de 500 toneladas de ajuda em dois dias e ajudar mais de dois milhões de pessoas em risco de fome, segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Pentágono).
Mas o porta-voz adjunto de Guterres sublinhou que “dadas as enormes necessidades em Gaza”, o corredor “se destina a complementar os pontos de passagem terrestres (…), nomeadamente Rafah, Kerem Shalom e Erez”, mas “não a substituir qualquer deles”.
Haq assegurou, no entanto, que a ONU está “grata” aos Estados Unidos, a Chipre e a outros Estados por terem ajudado a criar o chamado “corredor marítimo”, um mecanismo que as Nações Unidas apoiarão “desde que respeite a neutralidade e a independência das operações humanitárias”.
Nas numerosas perguntas feitas sobre a nova doca artificial, ficou claro que ainda há muitas dúvidas sobre como funcionará, principalmente relacionadas com a segurança.
Por exemplo, sobre se será o Exército israelita a fornecer proteção às colunas humanitárias que saem da doca para o interior do território palestiniano há mais de sete meses afetado por uma ofensiva de Israel, Farhan Haq limitou-se a responder que foram criados “mecanismos de segurança” e que se vai agora verificar “como funcionam”.
A ajuda internacional, rigorosamente controlada pelas autoridades israelitas, já estava a chegar a conta-gotas, mas a sua entrada na Faixa de Gaza está agora praticamente bloqueada nos dois principais pontos de passagem fronteiriça – Kerem Shalom, a partir de Israel, e Rafah, através do qual o combustível costumava ser transportado a partir do Egito.
Hoje, o porta-voz adjunto de António Guterres sublinhou que a ajuda humanitária “não pode nem deve depender de uma doca flutuante, distante dos locais onde as necessidades são mais agudas”, porque quer a ajuda chegue “por mar ou por estrada, sem combustível, ela não chegará às pessoas que dela necessitam”.
Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o movimento islamita palestiniano Hamas depois de este, horas antes, ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando mais de 1.170 pessoas, na maioria civis.
O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) — desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel — fez também mais de 250 reféns, 125 dos quais permanecem em cativeiro e 37 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 224.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 35.300 mortos e 79.000 feridos e cerca de 10.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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